Ligia Nery
26/01/2016 | Resolver não é Trocar
Andando à toa pela casa, televisão ligada, e de repente, uma frase ecoa no ar: ...panela velha é que faz comida boa.
Tão conhecida, quase senti uma voz vindo dela, a de minha avó, D. Nina, uma gringa do interior, apaixonada pelas panelas e que muitos ensinamentos deixou.
Mas importante foi que a frase me fez parar o que parecia tão importante para prestar à atenção ao que se passava ali na telinha. Assim tudo mudou de sentido.
Um programa mostrando uma reportagem, uma pesquisa recente ‘quentinha” indicando um retorno dos antigos ofícios como forma de solução para o desemprego, resgatando os velhos ofícios. Sensacional esta comprovação do protagonismo na gestão das carreiras , na redescoberta das paixões dos trabalhos fora do paradigma que estamos acostumados e ver. Como isto é essencial e libertador.
Mas outro olhar também chegou. O renascimento e o grande movimento dos sapateiros de bairro, lojas de manutenção de eletrodomésticos, costureiras nas reformas das roupas, os “ faz-se tudo”, e ali estava o senhor que arrumava a panela da senhorinha que tinha a famosa panela ...que fazia a comida boa. Ela estava apenas com o cabo quebrado, mas era forte e pertencia há muito tempo a família, diz ela. Não queria, e não podia comprar outra, referindo que as novas não duram nada , eram fabricadas para acabar. Ela queria aquela que continha parte de suas história e não queria também ser “enganada”.
Daí estas coisas importantes ficaram muito mais importantes do que tudo que eu tinha para fazer... Como escrever isto para compartilhar.
Em primeiro lugar, a consciência de um consumismo moderado, não mais descartável que tanto grita em nosso planeta, isto é Sustentabilidade, não é papo de ecochato. Precisamos de menos, e se olharmos ao redor já temos o que precisamos.
O resgate da cultura do resgate traz consigo um ensinamento muito maior e mais bonito do que colocar o cabo da panela, ou a sola no sapato preferido. Traz o ensinamento de que nossos filhos, familiares, funcionários precisam ter de que o desperdício é algo que não cabe mais. Nosso planeta e também nossa consciência grita por isto. Não temos mais dinheiro, água, ar, espaço, estômago, coração para tudo descartável e de qualidade feita para não durar.
É hora de cuidar manter relações, vínculos, produtos, representatividade política com carinho, porque isto tudo nos pertence, nos representa e nos constitui.
Preservar o que lutamos para conseguir significa antes de tudo resgate e respeito a si mesmo.
Vi outro dia um post que falava de um casal, perguntando como conseguiam ficar juntos já há 50 anos: é que somos do tempo em que quando tínhamos um problema procurávamos resolver e não simplesmente trocar.
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