Ligia Nery
18/08/2016 | Às vezes é preciso piorar para melhorar.
Estamos em tempo difíceis, é só o que ouvimos falar por todas as vozes. Não existe uma roda de amigos, um dia de postagens nas redes sociais ou notícias que não nos inundam a todo momento com catástrofes e desânimo. Mesmo para os mais animados é difícil não se contaminar com o pessimismo se não mantivermos o mínimo de nossa consciência expandida.
Hoje relembrei de uma pequena fábula que conta que “um mestre e seu discípulo caminhavam por uma área rural, praticamente desabitada. O mestre tentava lhe ensinar que tudo que nos acontece ou que está diante de nós, na realidade, apresenta uma oportunidade de aprendizado e crescimento, independentemente do assunto a que se relaciona
Passando ao lado de um sítio de aparência simples e descuidada, o discípulo concordou com o mestre, observando que, apesar do lugar lindo e paradisíaco em que estavam, aquele sítio pobre indicava a miséria em que viviam aquelas pessoas.
O mestre, repreendendo-o por simplesmente observar aquela situação e não procurar entender suas causas, sinalizou que entrassem e conversassem com seus moradores. Foram recebidos na entrada da porteira por um casal e seus filhos pequenos.
Observaram, sem qualquer esforço, que se vestiam com roupas sujas e castigadas pelo tempo, e aparentavam um sentimento de desânimo e frustração.
Questionados pelo mestre sobre como viviam num lugar ermo e desabitado como aquele, sem qualquer sinal de civilização como comércio e outras comodidades, o homem respondeu:
- Nós temos uma vaca que produz diariamente alguns litros de leite. Uma parte desse leite, utilizamos para nosso próprio consumo e o restante vendemos ou trocamos por outros produtos que nos faltam, na cidade vizinha.
Após algum tempo ali conversando, o mestre e seu discípulo finalmente se despediram e foram embora, não sem que antes o mestre incumbisse o discípulo de uma inusitada missão:
- Empurre a vaca do sitiante precipício abaixo, ordenou-lhe o mestre.
O discípulo, que tentou de todas as formas convencer o mestre de que a vaca era o único meio de sobrevivência daquela pobre família, por fim, sem alternativa, concordou e atirou-a morro abaixo, matando a pobre vaquinha imediatamente.
Passados muitos anos e sem conseguir se perdoar da atrocidade que cometera, o discípulo, agora um muito bem-sucedido homem de negócios, voltou àquele lugar para, finalmente, reparar seu erro. Contaria exatamente o que fizera anos atrás e, além de implorar-lhes Perdão, os retribuiria financeiramente pelo mal que certamente provocara. Ao chegar ao lugar do sítio, entretanto, surpreendeu-se com a nova visão que tinha.
Nada mais existia de pobreza e miséria naquele lugar. Agora, no lugar da choupana de antes, havia uma belíssima casa cercada por um impecável jardim, de onde se podia avistar uma vida próspera.
Desesperado com o que via e com uma forte sensação de culpa invadindo-lhe a alma, pensou: ‘Certamente por conta da morte de sua vaca, não mais lhes foi possível sustentar-se e foram obrigados a se desfazer da propriedade’.
Decidido a reparar seu erro, encontrando-os e compensando-os, acenou para um funcionário da casa que regava e podava as flores do jardim, chamando-o ao portão.
- Por favor, para onde se mudou a família que habitava este sítio há alguns anos atrás? – perguntou-lhe o ex-discípulo.
- Eu vou chamar meu patrão. Pelo que sei, ele é o dono destas terras há muitos e muitos anos – respondeu-lhe o empregado.
O patrão, vindo atendê-lo, reconheceu-o imediatamente, cumprimentando-o e perguntando-lhe sobre seu mestre.
O ex-discípulo, sem entender o que se passava, quis saber o que acontecera para transformar aquele lugar pobre e miserável, na bela e bem cuidada propriedade que observava agora.
- Sabe, logo depois que o senhor e seu mestre estiveram aqui, aconteceu uma fatalidade; nossa vaquinha despencou do precipício e morreu’, disse-lhe o antigo sitiante.
E continuando, falou:
- Fomos obrigados a fazer o que nunca pensávamos sermos capazes de realizar. Sem o leite da vaca, plantamos uma pequena horta de verduras e legumes e logo descobrimos que podíamos também cultivar frutas e diversos outros tipos de hortaliças. Os negócios foram crescendo e, depois de algum tempo, o que sobrava vendíamos para as grandes redes atacadistas, que sempre queriam mais. Para atender às constantes encomendas, tivemos que comprar o sítio vizinho e o do outro lado também.
- Hoje, dou graças a Deus que nossa vaca tenha morrido. “Nunca imaginei que pudéssemos fazer o que fizemos e que conseguiríamos atingir o sucesso que você pode comprovar agora’, concluiu o homem com indisfarçável orgulho.”
As dificuldades financeiras, o desemprego, a falência de nossos sistemas sociais, políticos que afetam hoje nossas vidas são grandes oportunidades para nos reinventarmos, rompendo com a vitimização e abrindo nossos olhos para o novo. Sem a ruptura de antigos padrões que já não nos sustentam não conseguiremos transformar nossas realidades. Isto imputa em expansão da consciência, projeto e ações que nos movimentem para o novo. O desconforto pode ser uma benção, pois é o motivador, que por vezes nos falta para romper para um novo momento de vida.
Esta fábula dá forma a este novo comportamento que nosso momento vem trazendo, antes de melhorar, às vezes é preciso piorar. Nossas dores podem estar travestidas de grandes oportunidades e portais. Viver , sem dúvida, significa buscar eternamente nossa melhor versão.
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