Vininha F. Carvalho
01/03/2012 | A dor pela morte de um animal
O luto é um sentimento profundo oriundo de uma perda importante na vida. Pessoas enlutadas experimentam traumas tanto físicos quanto emocionais, enquanto tentam adaptar suas vidas aos abalos trazidos pela perda.
Há muito tempo os psicólogos reconheceram que o luto experimentado pelos proprietários de animais após a morte destes, é o mesmo experimentado após a morte de uma pessoa. A morte de um animal de estimação significa a perda de um amor incondicional.
Esses sentimentos podem ser especialmente intensos nos idosos, nas crianças e nos casais sem filhos. As crianças tendem a ficar enlutadas por um período mais curto, mas a sua dor não é menos intensa. Crianças, também, tendem a voltar ao assunto com mais frequência e, precisam ser encorajadas a falar livremente sobre o animal, oferecendo-lhe muito carinho e conforto.
Até os três anos, a única coisa que a criança entende é que o animal não estará lá mais com ela, mas não percebe que a morte é irreversível. A partir dos sete anos a criança já entende melhor o conceito da perda. Depois dos 12 anos, ela tem capacidade para entender e aceitar todo o processo da perda. É importante que seja esclarecido neste período de luto, que a morte faz parte do ciclo da vida, é algo natural que vai acontecer com todos os seres vivos. Não é aconselhável se apressar para dar outro animal.
O ideal é que a criança consiga recordar as histórias do animal que perdeu, valorizando-o e não o vendo como objeto. Deixe que ela chore, não a force a sentir-se melhor. As crianças necessitam de mais tempo para compreender o que é morte. Deve-se falar sempre a verdade para a criança, evitando que ocorram traumas no futuro.
A conscientização neste processo educativo deve enfocar, que assim como as listras das zebras são iguais as impressões digitais dos humanos, no caso dos cães, a impressão digital fica no focinho, provando desta forma, que cada animal é único e insubstituível.
A observação do ciclo de vida de um animal ajuda-nos a entender melhor as nossas próprias fases da vida. O luto é provavelmente a sensação mais confusa, frustrante e dolorosa que uma pessoa pode sentir. É ainda mais para proprietários de animais. A sociedade, em geral, não dá a essas pessoas "permissão" para demostrar a sua dor abertamente. Dessa forma, os proprietários frequentemente se sentem isolados e sozinhos.
A tristeza causada pela sua falta do animal de estimação aos idosos pode ocasionar inúmeras reações, surgindo sentimentos de culpa ou medo. Não existe mais para o proprietário aquele ser especial que lhe oferecia amor e proteção. A pessoa enlutada se sente extremamente triste, desesperançada, inútil e cansada. Muitos adquiriram seu animal para combater a solidão, pois muitos são viúvos, divorciados e não possuem parentes e, viviam felizes na companhia deste amigo inseparável.
Após a morte do animal, é preciso que seja encontrado um novo estímulo, para que a pessoa continue se exercitando e cuidando da higiene da casa. A adoção de um novo animal é uma boa opção para restabelecer o equilíbrio emocional.
Os animais, também, criam laços muito fortes entre eles. Na verdade, animais que perderam um companheiro podem exibir vários sintomas idênticos aos experimentados pelo proprietário enlutado. O animal sobrevivente pode ficar inquieto, ansioso e deprimido. Ele pode suspirar com frequência, e ter dificuldade para comer e dormir. É comum que os animais procurem por seus companheiros mortos e exijam mais atenção dos seus donos. Mesmo animais que parecem ter dificuldade para se relacionarem podem exibir fortes sinais de estresse quando morre o outro animal da casa.
Na Tanzânia, primatologistas estudando o comportamento de chimpanzés registraram a morte de Flo, de 50 anos, a matriarca de um grupo. Durante todo o dia seguinte, o filho de Flo,Flint, sentou-se ao lado do corpo sem vida da mãe, ocasionalmente pegando sua mão e chorando. Nas semanas seguintes, Flint tornou-se crescentemente alheio, afastando-se do grupo – a despeito dos esforços de seus parentes para levá-lo de volta – e recusando comida. Três semanas após a morte de Flo,o outrora jovem e saudável chimpanzé também estava morto A primatologista Jane Goodall, que assistiu a Flint morrer de fome após a morte da mãe, não tem dúvida: ele morreu de tristeza.
Mas pode um macaco manifestar sentimentos que nós, antropocentricamente, associamos apenas a nós mesmos? É isso que propõe o livro: "The smile of a dolphin" (O sorriso de um golfinho), editado por Marc Bekoff, biólogo da Universidade do Colorado. No volume, 50 pesquisadores do comportamento animal – não só de chimpanzés e golfinhos, mas também de cães e pássaros – dizem que sim, nossos companheiros de reino podem sentir tristeza (luto), afeto, amor, alegria e prazer. Trata-se de uma virada e tanto no modo de os cientistas encararem essa questão, isto é, não se exige mais que isso seja respaldado por gráficos ou tabelas.
"Eu nem mesmo posso provar que outro ser humano está se sentindo feliz ou triste. Mas eu posso deduzir como eles estão se sentindo a partir da linguagem do corpo e da expressão facial. Com uma vantagem: os animais não filtram ou dissimulam seus sentimentos como fazem os os seres humanos", afirma Marc Bekoff.
O biólogo espera que um maior entendimento do que os animais estão sentindo irá estimular regras mais rígidas sobre como eles devem ser tratados tanto em zoológicos e circos quanto em fazendas e residências, o quanto eles sofrem ao serem maltratados.
Estudos sobre as reações à perda de um animal de estimação mostram como é forte o apego desenvolvido. Usando o modelo da teoria de apego (Bowlby, 1969, 1973, citado em Archer, 1996), Parkes (1986, citado em Archer, 1996) se referiu ao pesar de perder um animal de estimação como o custo de perder um grande amor.
Há estudos que tendem para uma descrição mais qualitativa, mostrando paralelos entre o luto seguido da morte de um humano e da morte de um animal de estimação. Stewart (1983, citado por Archer, 1996) relatou que uma minoria de sua amostra (18%) ficou tão perturbada que foi incapaz de continuar com sua rotina normal, e um terço descreveu si mesmos como muito angustiados. Dunn e colaboradores (1992, citado por Archer, 1996) estudaram uma amostra de aproximadamente 1.000 donos de animais de estimação aflitos nos Estados Unidos e encontrou que o luto foi breve, porém intenso. Tristeza ainda era aparente em metade da amostra um mês após a perda, e choro e culpa em aproximadamente um quarto dos pesquisados.
Depoimentos que envolvem a morte dos animais:
- Reverendo McSweeney. - Arquidiocese Católica de Nova York.
O catolicismo tem certeza da vida após a morte dos seres humanos, mas não temos idéia sobre o que acontece com os animais. Jesus disse: - "Toda a criação se renovará no paraíso". Para os proprietários de animais de estimação, eu diria que as palavras de Cristo podem significar que existe a possibilidade de que, quando isto acontecer, quando toda a criação for reunida num outro mundo, eles encontrem seus animais, pois o paraíso não deverá ser um lugar sem plantas nem animais. O céu foi feito para o ser humano. A razão para os cães irem para o céu não é por nós, nem por eles. Talvez, isto sim, pelo nosso relacionamento com eles. Eu diria que o Deus do amor deseja que sejamos felizes e nos permitirá ter conosco, os animais que partilharam de nosso amor.
- Rabino G. Winkler - Novo México.
O livro dos provérbios diz: "As pessoas piedosas conhecem as almas de seus animais" - o que significa que uma pessoa estudiosa, evoluída, tem ligação com o espírito do seu animal de estimação. Vários ensinamentos do Talmud falam de animais que pertencem a rabinos da antiguidade. O céu é chamado de "Jardim do Éden" e todas as criaturas são vistas celestialmente. O Pai Supremo, abençoado seja seu nome, não priva nenhuma de suas criaturas do prêmio celeste. Baseado em como viveram neste mundo, todos os animais receberão recompensa no mundo que está por vir. Existe um paralelo entre o pensamento católico e judaico, onde prevalece o pensamento de que os animais foram feitos para nós. Não foram. Eles são imbuídos de espírito, alma e têm escolhas. Todas as criaturas têm algo para nos ensinar. Eles têm seu próprio conhecimento.
- Reverendo A. Linzey. - Fundação de Pesquisas para o Bem Estar Animal.- Prof. de Teologia da Universidade de Oxford.
Para mim é perfeitamente óbvio e teologicamente essencial que os animais vão para o céu. Na verdade, a única e importante pergunta teológica é saber se o ser humano vai para o céu. Afinal, nenhum animal peca, nenhum é sem fé ou violento como nós, seres humanos. Os animais são criaturas inocentes que sofrem por erros que não são deles. O Deus justo certamente dará a redenção e libertará de sofrimentos os animais, e dará a eles um lugar no céu. A Bíblia se refere em várias passagens aos animais: "O cordeiro deitará com o leão", "A alma de todas as coisa vivas está nas mãos de Deus", "Todos os animais da floresta me pertencem".
- Allan Kardec - Trecho do Livro dos Espíritos
Pois que os animais possuem uma inteligência que lhes faculta certa liberdade de ação, haverá neles algum princípio independente da matéria? Será esse princípio uma alma semelhante à do homem ? - E também uma alma, se quiserdes, dependendo isto do sentido que se der a esta palavra. É, porém, inferior à do homem. Há entre a alma dos animais e a do homem distância equivalente à que medeia entre a alma do homem e Deus.
Acredito que se os animais não tivessem alma, com certeza não seriam capazes de amar e de demonstrar seus sentimentos por nós de forma tão expressiva. Se não tivessem alma, não teriam inteligência, da qual há hoje em dia tantas provas científicas. Procurando alguma referência bíblica sobre humanos e animais, descobri esta passagem muito interessante em Eclesiastes. Acredito que este texto possa ajudar na sensibilização das pessoas em relação aos animais e a aparente semelhança da morte entre homens e animais: - "Eu também disse a mim mesmo: Como para os seres humanos, Deus testa-los para que eles possam ver que eles são como os animais. Certamente o destino dos seres humanos é semelhante à dos animais; o mesmo destino espera os dois: Como um morre, assim morre o outro. Todos têm o mesmo fôlego; os seres humanos não têm nenhuma vantagem sobre os animais". (Eclesiastes 3-18,19)
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