David Iasnogrodski
14/12/2010 | Diálogo franco e aberto
Estou indo ao encontro dele.
Uma fila enorme.
Vejo-o de longe. Sentado numa poltrona enorme e confortável. Cor vermelha. Com um computador ao colo. Eu acho que é para colocar os nomes das pessoas que ali estão passando.
E a fila anda. Devagar, mas anda...
E eu ali.
Todos acompanhados dos pais.
Eu estou sozinho.
Tenho muito mais idade do que as crianças ali presentes. Todas sorrindo. Todas desejosas de falar com “ele’”.
E a fila vai andando. Parece um “trenzinho”...
E eu a pensar com meus botões: “vou falar com ele”.
Cada criança sai, depois da conversa, com bala e pirulito.
Quase chegando a minha vez.
Finalmente chegou a hora.
- E o senhor, o que deseja? Não trouxe os filhos?
- Claro que não. Vim sozinho. Quero bater um “papinho” com este velhinho.
- Estou ao inteiro dispor, meu filho.
- Papai Noel. Não quero bala, já passei desta idade de ganhar guloseima. Não quero pirulito, pelo mesmo motivo. Não escrevi cartinha nenhuma solicitando um “presentinho” para ganhar no Natal. Não faço mais “chichi” na cama. Não uso mais fraldas e nem chupo mais bico.
- Então o que vieste fazer aqui?
- É uma época de diálogos. Todos vêm aqui com o intuito de lhe pedir algo ou dizer-lhe alguma coisa. Eu sou diferente. Sou adulto mas seria muito bom falar com este “bom velhinho” que está sempre de vermelho e com a barba branca do mesmo tamanho.
- Estás gozando da minha cara? He, he, he...
- Claro que não. Estou falando a verdade. Os adultos não possuem pessoas para dialogar. Estão todos nas suas casas. Engaiolados entre as grades devido à insegurança urbana.
- Será que sou eu a solução?
- Acho que sim! Como é bom dialogar com pessoas que possuem paciência. Paciência de ouvir lamúrias. Paciência de ouvir choros. Paciência... E também dar alguns conselhos...
- Isto que falaste é verdade. Estou aqui sentado para isso. As crianças têm muita confiança em mim. Adoram as minhas respostas. Adoram as minhas balas e também adoram que eu diga a eles algumas verdades. Elas me adoram... Acho que fui treinado para isso...
- São essas verdades que alguém deveria, também, dizer aos adultos. Dizer aos adultos a fim de que “eles” possam parar com as intrigas, com as fofocas, com as guerras, com as intrigas. Com as brigas familiares. Com tudo que não soma nada...
- Eu dizer isso?
- Sim, porque não? O senhor, mesmo com essa barba branca e a roupa vermelha é um ser humano e adulto. E como tal também deve ter no seu íntimo alguns “probleminhas”.
- E como os tenho... Mas para as crianças estou sempre sorrindo e não devo demonstrar estas minhas preocupações. Minhas angústias... Meus “probleminhas”... Bem, chega. Nossa conversa já se alongou demais. A fila está grande. Estão resmungando que não está andando o “trenzinho”. Afinal de contas, queres a bala e o pirulito?
- Vou aceitar, mas continuo dizendo que necessitamos conversar mais. Nós dois. Adulto também acredita em Papai Noel... e Papai Noel acredita nos adultos...
- Fica para o ano seguinte.
- Tudo bem. Se é assim que o senhor deseja, assim será...
- O próximo da fila, por favor... he, he, he…
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Vou ficar esperando?!
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