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David Iasnogrodski
21/06/2011 | É A VIDA!
Não sei se choro.
Não sei se rezo.
Não sei o que fazer.
Faz frio aqui no abrigo.
Abrigo situado embaixo de uma ponte.
E o nenê está chorando.
De frio?
De fome eu sei que não é...
Chora muito.
Chora forte.
Não sei o que fazer.
Ouço as sirenas das ambulâncias correrem pela avenida.
Devo levá-lo ao hospital?
Como?
Chove muito lá fora.
Muito mesmo...
Muito frio.
Já sei: vou caminhar. Caminhar com ele no meu colo.
Será que terei sorte?
Sorte de uma carona?
Mas chove. É noite.
Chove muito.
Nestas horas da noite ninguém terá coragem de me dar uma carona.
Eu sei: problemas de segurança.
Eu sei!
Não roubo.
Não assalto. Outros roubam.
Outros assaltam.
Estou com meu filho chorando.
Chorando forte.
E a chuva caindo.
Vou caminhando.
Sei que com algum esforço e vontade irei chegar. Chegar no hospital.
Já se passaram algum tempo e eu a caminhar.
Também estou molhada.
Começando a tossir.
Cheguei!
Graças a Deus!
Cheguei.
- Senhora a emergência está lotada.
- Meu filho chora. Faz frio. Está molhado. Vim caminhando. Acredito que é febre. Febre alta. Sou mãe.
- Minha senhora, já lhe expliquei, a emergência está lotada.
- E o que fazer?
- Não sei, minha senhora. Aguarde!
Fico no aguardo.
Horas se passam. E nada. E ele a chorar. E muitos também choram ali na emergência.
Até que ele para. Para de chorar. Para de respirar.
E o que fazer?
Fico desesperada...
Só me resta rezar.
Volto.
Volto caminhando.
A chuva continua. O frio também.
E eu sozinha, sem ele nos meus braços. Volto a ouvir as sirenas das ambulâncias e o som da chuva.
Estou sozinha. Chorando.
Sem o choro dele.
Sem mais nada.
É a vida...
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