Gilberto Jasper
03/12/2013 | Estava escrito nas estrelas...
Sempre sonhei trabalhar em jornal. Meu pai não gostou muito da ideia, insistiu para ter uma “profissão decente”, mas acabou cedendo.
- Este é o meu filho que tem o meu nome. Escreve bem, ganhou alguns concursos de composição(como antigamente era chamada a redação). Tem alguma coisa pra ele fazer aqui? – perguntou o velho Giba, empresário Oswaldo Carlos van Leeuwen, dono jornal O Informativo do Vale, de Lajeado, um dos mais prestigiosos diários do Estado.
Eu não tinha qualquer noção de como funcionava um jornal, mas ganhei a vaga. O começo foi difícil, mas botei na cabeça que seriar jornalista.
Minha primeira função era simples: munido de uma prancheta atravessava a cidade a pé para visitar o Hospital Bruno Born e a única funerária. Era responsável pelas colunas que, à época, me pareciam as mais importantes do jornal: Nascimentos e Falecimentos e Aniversários da Semana.
Os aniversariantes eram captados na hora que o leitor comprava uma assinatura. Numa imensa agenda de capa amarela anotava o nome do titular na respectiva data de nascimento, bem como de parentes, amigos e conhecidos que o assinante gostaria de ver publicado.
Tudo corria bem até que um burburinho se formou na redação. O motivo: a editora responsável pelo envio do horóscopo havia abusado na majoração do preço, muito acima do previsto.
- Não vamos pagar este absurdo de jeito nenhum!”- berrou o seu Oswaldo batendo na mesa. O impasse estava posto. Mas “do nada” (como diz a gurizada de hoje) levantei a mão:
- Fazer horóscopo é fácil, qualquer um faz! – falei.
Todos olharam atônitos aquele piá, causando imediato arrependimento, mas já era tarde.
- Tá feito! Tu vai fazer o horóscopo e vamos ver como fica” – falou o dono do jornal.
O remédio foi trazer revistas de casa, fruto do hábito que o velho Giba cultivava de comprar Seleções do Reader’s Digest, Realidade, Manchete, além de colecionar almanaques de farmácia. As famosas revistasIntervalo - com fofocas de tevê – e fotonovelas, surrupiadas da minha irmã.
Demorei a pegar o jeito de redigir dentro dos padrões exigidos, mas com o tempo dei conta do recado. As gurias que trabalhavam na montagem dos textos – sistema usado antigamente – costumavam me assediar na hora do lanche:
- Conheci um cara que é de aquário, eu sou de áries. Escreve que os dois signos combinam e que ele deve procurar uma guria loira, “cheinha” como eu! – imploravam. Solidário, muitos presságios foram redigidos em troca de pastéis, calças-viradas, pipocas e cafezinho.
Numa palestra que fiz na Faculdade de Jornalismo da PUC, um aluno perguntou se não eu tivera dramas de consciência pela minha postura:
- Meu maior medo era ser castigado pelos astros, mas me dei bem como jornalista. Além disso sou bem casado e tenho dois filhos sadios! – respondi.
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