Gilberto Jasper
25/10/2017 | Tocador de sino
Entre tantas incapacidades que integram o rol de frustrações, uma delas é a minha total incapacidade para tocar qualquer instrumento. Neste quesito preciso reconhecer que meus pais tentaram, mas sem qualquer resquício de êxito, fazer com que eu aprendesse a tocar acordeão, a popular gaita, ou sanfona, como se diz no Nordeste.
Meu pai - isto na distante década de 70 - anteviu uma tendência:
- Aprende a tocar gaita. Depois tu vai tocar órgão, o instrumento do futuro – profetizou o velho Giba.
O órgão, no caso, é atualmente conhecido como teclado. É um aparelho musical capaz de reproduzir o som de todos os instrumentos. Esta ilimitada capacidade é turbinado pelo computador. Isso permite a um único artista fazer um show completo. E sozinho.
Voltando à tentativa frustrada de meus pais em me tornar um virtuose dos teclados, a escolha do instrumento não foi um processo democrático. Longe disso. Naquela época a opinião de crianças e adolescentes jamais era levada em consideração. Contrariar os pais era uma hipótese inexistente no menu doméstico. Desde o berço éramos ensinados a obedecer. E só.
Minha irmã padeceu da mesma tendência ditatorial da época, enveredando pelos caminhos do violão, a exemplo de meus primos e primas. Aliás, os encontros da nossa família paterna eram riquíssimos em talento musical. Meu tio, Dittmar Elbert Kirscher, era um gênio, meu ídolo. Ele tocava todos os instrumentos que via. Se não conhecesse algum, bastavam 15 minutos para ele dominar com maestria e dar um show.
Antes de ser pai sempre era advertido para evitar o fenômeno da transferência: fazer com que os herdeiros fizessem ou aprendessem coisas que fomos incapazes de executar ou impor nossos gostos. Apesar dos avisos, meu filho Henrique ouviu vários, digamos, “conselhos” para tornar-se músico amador.
O esforço foi exitoso. Ele toca violão e guitarra. Mas para convencer o guri, repeti que quem tocava violão chamava a atenção das meninas nas festas. Deu certo. Hoje ele costuma animar encontro com amigos e, é claro, amigas.
Aos 57 anos, sempre ouço que é possível aprender algum instrumento. Estimulado pelo desafio, estou pensando seriamente em praticar triângulo ou sino, instrumentos fáceis de aprender. Mas dizem que a afinação é muito difícil... Será?
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