Gilberto Jasper
23/10/2018 | Fome e desperdício
Em 1945 foi instituído pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) o Dia Mundial da Alimentação, comemorado em 16 de outubro. É um tema atual porque envolve miséria e saúde, um paradoxo inacreditável, mas real. Os dados que envolvem o desperdício de alimentos no mundo são impressionantes. Estima-se que 1,3 bilhão de toneladas de comida são jogadas no lixo por ano, Isso significa um prejuízo de 750 bilhões de dólares anuais. Enquanto isso, existem hoje, no mundo, 821 de pessoas que vivem com fome.
Somente no Brasil são descartados 15 milhões de toneladas de alimentos a cada ano. Num país em que 5,2 milhões de pessoas passam fome isso é inadmissível. Do total desperdiçado em território nacional, 54% da perda acontecem na fase final da produção. O restante é inutilizado ainda nas fases de processamento, distribuição e consumo.
Os dados são estarrecedores. Exigem, com urgência, a adoção de políticas para a adoção de campanhas para o aproveitamento integral dos alimentos. Existem inúmeros exemplos de iniciativas que ensinam sobre a utilização de folhas, talos, cascas e sementes de frutas e legumes.
A internet é pródiga na disseminação de receitas de uso integral dos alimentos, mas são os governos – nos três níveis – que deveriam ser mais efetivos. A escola e a família deveriam estimular a consciência sobre a necessidade de evitar-se o desperdício de alimentos. Inúmeras legislações de diversos municípios proíbem a distribuição de sobras de refeições em bares e restaurantes, invocando o conceito de segurança alimentar.
O volume de alimentos descartados afronta outra estatística. Segundo a Organização Mundial da Saúde, um em cada oito adultos no mundo é obeso. Até 2025 serão 2,3 bilhões com excesso de peso. Deste total, 700 milhões sofrerão de obesidade, além de pré-diabetes, hipertensão e acúmulo de gordura no fígado.
De um lado, comida jogado no lixo em toneladas. De outro, um contingente crescente de obesos. Entre estas duas estatísticas está à espreita a fome, flagelo de inúmeros países incapazes de atender as necessidades básicas de suas populações.
Neste contexto, o Dia Mundial da Alimentação passa quase despercebido. Deveria ter a divulgação semelhante ao Outubro Rosa e outras iniciativas de advertência e estímulo a boas práticas. O desprezo com os alimentos é mais um absurdo do mundo moderno. É comum constatar em nosso dia a dia que muita gente ao servir-se num bufê exagera. Isto gera lixo, desperdício e grande revolta diante daqueles que não dispõem do mínimo para sobreviver.
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