Gilberto Jasper
15/06/2015 | Falar com as mãos
Pesquisa do IBGE revelou que 7,2 milhões de brasileiros acessam a internet somente por celular ou tablet. Já a Samsung descobriu que os smarphones são mais utilizados para enviar mensagens de texto e ver e produzir vídeos e fotos do que propriamente para falar. Falamos mais com as mãos - característica típica dos italianos - que propriamente com a boca.
As conclusões parecem óbvias para quem observa o cotidiano. Em todos os ambientes o dedilhar nervoso de crianças, jovens, adultos e veteranos gera um silêncio de vozes que se impõe nos mais variados lugares que reúnem muita gente.
No refeitório que frequento todos os dias vislumbro cenas bizarras. A cada garfada muitos colegas de trabalho, em pleno almoço, digitam freneticamente mensagens, riem sozinhos, manuseiam com sofreguidão os equipamentos. Devem ser assuntos de urgência inadiável ou vital importância para o futuro da humanidade.
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Qualquer velório é mais barulhento que as salas de espera de consultórios médicos. Revistas e jornais sequer são tocados, ninguém pensa em furtá-los. Fico constrangido surrupiar uma notícia médica que serviria de inspiração para minhas crônicas. O ruído iria atrapalhar os demais pacientes. Com certeza seria repreendido pela quebra de concentração dos “dedilhantes”.
A pesquisa da Samsung mostrou também que 90% dos usuários de smartphones são fãs das selfies. A volúpia pelos autorretratos é outra praga onipresente. Cheguei a esta conclusão depois das fotos tiradas sem qualquer pudor durante o sepultamento de Eduardo Campos, candidato à Presidência da República, vítima de acidente aéreo em Santos.
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Dia destes, numa churrascaria de Porto Alegre, flagrei um pobre garçom, sorrindo ao tentar equilibrar a bandeja com uma bela sobremesa. A cliente, ávida pela foto perfeita, obrigou o coitado a sorrir cinco vezes até a imagem ficar “dentro dos conformes” para ilustrar as redes sociais. Nestes espaços da moda, só existem pessoas bonitas, bem vestidas que frequentam lugares chiques e fotografam apenas ao lado de celebridades.
Fui obrigado a aderir ao whatsapp, mas confesso que tenho medo de virar um fanático pela modalidade. Este temor me mantém longe do facebook. Domingo completo 55 anos e nesta data amigos especiais costumam ligar. Ficaria decepcionado se eles, ao invés conversar comigo, enviassem uma um wats ou uma mensagem via facebook.
A tecnologia é poderosa. Mas não substitui o calor e o carinho do contato pessoal.
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