Gilberto Jasper
15/04/2014 | A primeira vez a gente não esquece
A única reprovação que tive na vida escolar é uma experiência indelével. Aconteceu no 1º ano do Segundo Grau (hoje Ensino Médio), num tradicional colégio estadual em Lajeado, no Vale do Taquari. Antes estudara num colégio administrado por freiras, fundado em 1931, em Arroio do Meio, onde nasci.
A mudança foi radical. A galera do novo colégio era muito diferente dos inocentes colegas que tivera até então. Desconhecido de todos em Lajeado, enturmei com uma gurizada da pesada, fã de bagunças durante as aulas e de todo o tipo de pegadinhas com os professores.
O esporte foi uma maneira de integração. Jogava vôlei, futebol de salão, handebol, basquete e participava de provas de atletismo. As excursões eram o clímax destas atividades. Além de faltar às aulas com justificativa permitiam conviver com as equipes femininas.
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A imediata integração com a “turma do barulho” levou à falta de concentração nas aulas No começo do segundo semestre os indicadores apontavam para um desfecho deprimente no final do ano.
Entre os professores mais exigentes figurava minha tia, que lecionava português. Dona Nelma Eronita Fristch – irmã do meu pai - implicava até na forma como escrevia, em “letra de imprensa”. Mas fui ameaçado de reprovação sumária se não adotasse a escrita cursiva. Cedi diante da real possibilidade de “ser rodado” já em julho...
O calvário de dezembro se iniciou na hora de buscar a avaliação final. “Reprovado” era o carimbo gravado em tinta vermelha. Fiquei atônito diante do inusitado da situação. Sempre fora um aluno atento à aulas que dispensava estudos em casa. Atordoado, caminhei pelas ruas de Lajeado buscando um discurso para encarar meu pai. Invocaria uma pretensa injustiça diante daquela reprovação inédita.
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Assim que meu pai chegou para almoçar encarei a fera:
- Pai, eu rodei de ano.
Ele pediu para eu repetir duas vezes, até falar calmamente:
- Isso era esperado. Te prepara porque as coisas vão mudar. E muito! – prometeu.
Prometeu e cumpriu. O pior aconteceu no Natal. Na distribuição dos presentes coube a mim um único e minúsculo pacote. Murcho, embrulhado em papel cinza, opaco, sem qualquer enfeite.
- É isso que tu merece do Papai Noel este ano – disse o velho Giba estendendo o presente.
Era um prosaico par de meias pretas, tipo carpim que eu jamais usaria porque só calçava tênis. Sempre que o desânimo chegava, eu abria a gaveta e olhava para aquele pedaço de pano cor de luto. Imediatamente me enfiava nos livros...
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