Gilberto Jasper
15/01/2019 | Sofrida Língua Portuguesa
Sou da velha guarda de jornalista. Daqueles que, independentemente de partido ou ideologia, para ouvir um bom orador. Por isso confesso que aos 58 anos – 40 e poucos de jornalismo - está cada vez mais difícil aturar o blá-blá-blá que permeia os meios de comunicação e os parlamentos em geral. A pobreza de linguagem é a regra. Longe de mim defender o uso do vernáculo rebuscado, mas a proliferação de chavões irrita porque não dizem nada e provocam bocejos nas plateias obrigados a suportar cantilenas cansativas.
Ao contrário da maioria, confesso que gosto de política, segmento em que trabalho e já atuei por muitos anos, assessorando diversas autoridades, além de deputados e prefeitos. Oradores e jornalistas têm compromisso com a divulgação de cultura. Ok, nada rebuscado, mas usar sinônimos àqueles repetidos à exaustão nas mais diversas maneiras de comunicação.
De acordo com a época, nota-se que determinadas expressões parecem onipresentes de tanto uso similar nos mais diversos segmentos.
Seguem algumas expressões que estão com o prazo de validade vencido há muito tempo:
Pessoa humana: É difícil imagina uma pessoa que não seja humana, apesar de atitudes animalescas tomadas por muitos semelhantes. O uso desta expressão deveria ser revogado imediatamente!
Empoderamento: Temo de uso até recente, mas tão repetido parece velho, surrado e superado. Ao lado deste segue o “empoderamento feminino”, que empobrece a luta das mulheres e carece urgentemente de sinônimos.
Atitude republicana: No meio político provoca dor nos ouvidos mais sensíveis. Velha e tão usada que perdeu credibilidade. Serve, quase sempre, para criticar adversários políticos ou inimigos.
Sociedade civil organizada: Serve para conceituar até grupos sociais desorganizados. Repetição exaustiva fez a expressão perder importância e ficar chata.
Meio ambiente: São palavras sinônimas. Termos empregados desde que a luta ecológica era novidade e tinha como estrela mais fulgurante o ambientalista gaúcho José Lutzenberger. Exageros esvaziaram o significado
Estado democrático de direito: Serve para tecer críticas contra adversários políticos ou reclamar possíveis injustiças. Vulgarizada, a expressão permeia vários ambientes.
Segurança jurídica: Termo de grande importância, mas que carece de valorização devido ao uso indiscriminado. Sinônimos são bem aceitos.
Representatividade popular: Condição pretextada por inúmeros detentores de mandato. Muitas vezes empregada para justificar atitudes “pouco republicanas” que se transformam em escândalos ou denúncias cabeludas
Consagrado pelas urnas: Expressão com íntima relação com a irmã gêmea “representatividade popular”. Dá impressão de uma onipotência ou força incomum, graças à conquista de um mandato ou de expressiva votação em um pleito.
Ao longo deste texto o leitor certamente vai lembrar inúmeras outras expressões vazias presentes no seu dia a dia. Isto acontece ao ouvir rádio, assistir à tevê, ler notícias no jornal ou acessar a internet. E ao suportar discursos pouco criativos.
A língua portuguesa é um desafio permanente, formada mais por exceções que regras. Cada vez que ouço alguém se esforçando para falar nossa língua-mãe com forte sotaque estrangeiro tiro o meu chapéu. É muito difícil pronunciar corretamente, conjugar como manda o figurino e fazer todas as combinações necessárias para uma boa combinação.
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