Gilberto Jasper
02/12/2014 | Amigos são indeletáveis
Meu celular é um modelo simples, pré-histórico diante das novidades do mercado. Fazer e receber ligações, enviar e receber torpedos. Este é o meu cotidiano, embora seja intensa a pressão para adotar um aparelho sofisticado com acesso às redes sociais. Colegas e familiares - principalmente os meus filhos, jovens adultos - cobram sem tréguas uma atualização tecnológica.
Dois temores impedem esta mudança: o medo de virar escravo, daqueles do tipo que acessa freneticamente suas mensagens de texto, e a possibilidade de perder parte (ou a totalidade) da minha agenda. Não é paranóia porque se trata de uma lista com mais de 400 nomes com os respectivos números, gestada em mais de 30 anos de jornalismo.
Em busca de mais espaço, reviso com frequência a relação de contatos. Ultimamente esta rotina se transformou num doloroso exercício, gerando tristeza e depressão, e provocando reflexões sobre a finitude da vida.
Ao longo de 2014 esta dor se intensificou grandemente. Perdi inúmeros amigos, ex-colegas e conhecidos. Sábado, ao me despedir do jornalista Celito de Grandi num crematório de Porto Alegre, sentei sozinho e me dei conta de quão efêmera é a vida.
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Soube do falecimento do amigo Celito na sexta-feira à noite, quando me preparava para dormir, através de uma mensagem no celular. Comentei sobre o fim abrupto das amizades que florescem ao longo da nossa existência com a família.
- Pai... tu tá é ficando velho! – disparou o irriquieto Henrique, “foca” (estudante de Jornalismo), no alto de seus 19 anos de muita energia, inúmeras expectativas e planos, mas com doída verdade.
- Puxa vida! Este ano a coisa tá feia, heim? – perguntou a filha Laura enquanto dedilhada o smarphone.
Ambos têm razão.
O avanço do tempo empresta sabedoria, fruto do acúmulo de experiência. Mas machuca fundo ao tolher afetos forjados por anos a fio. Ao ministrar palestras e no relacionamento diário com estagiários, enfatizo sobre a importância de valorizar os amigos. São eles que nos socorrem nos momentos de dificuldade, são apoio quando uma demissão nos deixa à beira da depressão e são porto seguro para angariar energias de um novo recomeço.
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Cargos, bons salários, posições de destaques. Tudo isso é temporário. Só permanecem os verdadeiros afetos, muitas vezes distantes fisicamente, mas sempre presentes na lembrança. Por isso, sofro tanto com a perda de amigos de longa data ou com as recentes amizades, porém promissoras.
Amigos são “gente que se guarda no lado esquerdo do peito”, escolhidas por vontade própria. O laço que nos mantêm unidos independe da frequência dos encontros. O sentimento supre a ausência, mas se transforma em dor pungente quando o círculo da vida se rompe.
Por medo de perder contatos, sou cético em acreditar que um amigo se foi. Nego-me a deletar nomes da agenda do celular. Um dia - quem sabe? - talvez, descubro que houve um lamentável engano.
E eu não me perdoaria se não tivesse como ouvir novamente a voz destas pessoas que são inesquecíveis na minha vida.
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