Álvaro L. Teixeira
30/08/2010 | Concentração
A primeira percepção que tive da palavra concentração foi relacionada ao seu significado no futebol. Ainda hoje, os times ficam concentrados na véspera de uma partida. Os jogadores dormem no clube, na concentração, ou em hotéis escolhidos para este fim. Ainda escuto a frase: “Eles estão concentrados para o jogo de domingo”.
Mas sua definição é bem mais ampla do que juntar um grupo de atletas antes de um evento esportivo. O mundo moderno está nos afastando cada vez mais da capacidade que tínhamos de ficar concentrados. A evolução tecnológica tem aproximado continentes e nos afastado de nós mesmos. Não temos mais tempo para falar conosco. Não conseguimos espaço para ficarmos concentrados em determinada atividade.
No início do século passado, a nossa capacidade de concentração era de 50 minutos contínuos. Isto é, conseguíamos ficar concentrados durante estes 50 minutos. Você é capaz de imaginar quantos minutos conseguimos, hoje, ficar absortos em uma única atividade? Pasmem, não conseguimos em média mais do que 7 minutos de concentração. Eu sei que existem vários fatores que causam esse impedimento. Porém essa menor capacidade nos deixa mais superficiais e sem condições de atingir o essencial de cada assunto.
Se não conseguimos “pensar” por muito tempo em determinada atividade, tarefa ou assunto, fica muito difícil compreendê-la completamente. E, por conseqüência, perdemos o domínio sobre a questão. A falta de concentração em qualquer atividade, por menor que seja, pode nos levar ao erro. E este erro normalmente ocorre por falta de atenção. Que nada mais é que não dedicarmos a devida concentração ao que estamos fazendo.
Outro exemplo: as corridas de Fórmula 1 têm uma duração máxima de duas horas. Esse limite é determinado porque um ser humano não consegue ficar concentrado, com dedicação absoluta, por mais de duas horas. O cansaço físico toma conta, e os erros começam a acontecer. Isso seria terrível em uma corrida de Fórmula 1. As corridas de motocicleta, no moto GP, têm no máximo uma hora de duração. A concentração exigida é mais intensa e, portanto, pode esgotar os pilotos em um tempo menor.
Há dois anos, o piloto de moto velocidade, sete vezes campeão mundial, Valentino Rossi, experimentou a Ferrari do Michael Schumacher. O Valentino conseguiu, na pista de testes da Ferrari, andar igual ou melhor que o Michael. Os admiradores do Valentino achavam que ele poderia correr na Fórmula 1. O grande impedimento, no entanto era aumentar a capacidade de concentração de uma para duas horas. E dobrar a capacidade de concentração não é uma tarefa fácil, requer muita dedicação, sem certeza alguma do resultado.
Quando perdemos a nossa capacidade de concentração, estamos perdendo também a sensibilidade de perceber melhor o mundo em que vivemos. Perdemos a capacidade de apreciar o belo. Perdemos a capacidade de “curtir” um pôr-do-sol. Porque na realidade não conseguimos estar totalmente presentes naquilo que estamos fazendo.
Os acontecimentos nos levam através da vida e nós vamos perdendo o controle sobre eles. Precisamos estar totalmente concentrados no que estamos fazendo, dedicarmos toda a nossa energia na atividade que estamos executando aqui e agora. Este talvez seja o “segredo” para voltarmos a perceber o mundo como ele realmente é, fazendo uma coisa de cada vez, com total envolvimento.
Publicado originalmente em 01/09/2008
Compartilhe
- Dia de Santa Adelaide
- Dia de São José Moscati
- Dia do Butantã
- Dia do Reservista
- Dia do Síndico - Porto Alegre
- Dia do Teatro Amador