Álvaro L. Teixeira
16/05/2016 | Motociclismo
A vida é feita de vitórias. Cada vitória é um passo que damos para frente. E cada dificuldade ou derrota é apenas um recuo para novas conquistas. Algumas conquistas, por menores que sejam, são significativas. Hoje, depois de mais de 300 mil quilômetros rodados em duas rodas, dois livros sobre viagens de motocicleta publicados, alguns desafios completados, fico pensando como tudo começou. Se não formos capazes de dar o primeiro passo, os outros certamente nunca serão dados.
O meu sonho motociclístico em 1999 era ir de Porto Alegre a Bagé de motocicleta e voltar. A preparação para percorrer esses 383 quilômetros levou quase um ano. Em dezembro de 1998 estive em Bagé e me encontrei com os organizadores do Super Moto Bagé, que estava perto da sua segunda edição. Prometi a eles e a mim que no próximo eu lá estaria. Troquei minha CB 400 (Honda) por uma Virago 250 (Yamaha) e acabei descobrindo que teria dificuldade em ultrapassar até os ônibus. Aquela viagem de Porto Alegre à Rainha da Fronteira (Bagé) era um grande desafio para mim na época.
Ainda em 1999 troquei a Virago 250 por uma Vulcan 800 (Kawasaki). Eu tinha então equipamento para enfrentar o meu primeiro desafio sobre duas rodas com mais de 100 quilômetros de distancia.
Comecei a ir ao trabalho com a Vulcan para ir me acostumando com a pilotagem e com as ultrapassagens. Eram quase 40 quilômetros diários de treinamento para no final do ano estar no 3º Super Moto Bagé e dar o meu primeiro passo no mundo das motocicletas. Como dizem que quando temos um propósito o universo trabalha a nosso favor, foi exatamente isso que aconteceu. Descobri que minha cidade natal não era conhecida no meio das motos pelos encontros bem organizados. E todos os grupos de Porto Alegre seis meses antes já falavam que no início de dezembro o ponto de encontro seria o 3º Super Moto em Bagé. Se eu já estava inclinado a ir, mais incentivo eu tinha. Na época, eu não pertencia a nenhum grupo de motociclistas. O dono da empresa onde eu fazia a revisão da Vulcan tinha um grupo e eles iriam para o Super Moto Bagé.
Não demorou muito e eu já estava escalado para ir junto. A programação era estar no posto, na saída de Porto Alegre, às 7 horas da manhã de sábado, e a volta seria no domingo à tarde. Na semana da viagem, eu o visitei todos os dias. Eu saía do trabalho e passava por lá para confirmar os detalhes e pegar mais informações de como seria enfrentar uma estrada de motocicleta.
Chegou o dia, e às 6 horas da manhã eu já estava estacionado no ponto de encontro com a moto abastecida. Imaginando como seria chegar a Bagé de motocicleta, um sonho que eu alimentava desde 1973 quando mudei para Porto Alegre. Às seis e meia começaram a chegar vários grupos de motociclistas. Confesso que nunca na minha vida havia ouvido tantas vezes em um período curto de tempo o nome da minha cidade natal. Todo mundo estava indo para Bagé. A adrenalina misturada com a emoção do momento me fazia repetir a todos: “Eu sou de Bagé!”.
Faltavam apenas 5 minutos para as 7 horas e o motociclista com quem combinei de ir junto não havia aparecido ainda. Liguei para ele e foi a mulher dele quem atendeu e me avisou que ele não iria. Havia trabalhado até as 4 horas da manhã e não poderia ir. Parece que o chão sumiu debaixo dos meus pés, até vertigem eu senti. O grupo de motociclistas Cruzando o Sul estava saindo naquele momento. Um de seus integrantes aproximou-se de mim e perguntou se eu não ia a Bagé. Não lembro o que respondi. Ele me convidou para ir com eles. Perguntei se realmente podia e no momento seguinte eu já estava ligando a Vulcan.
A viagem foi inesquecível. Na primeira parada para abastecimento, todos sabiam que eu era de Bagé. No posto policial, já quase no destino, outro integrante do grupo me chamou e me convidou para ser o puxador, isto é, ir à frente de todos os outros motociclistas do grupo. Não me esqueço do orgulho que senti ao entrar puxando o grupo na minha cidade natal, na primeira viagem de moto que fiz.
Este ano (2008) seria o 12º Super Moto Bagé, mas por motivos que desconheço não acontecerá. Estou triste. Gostaria do fundo do coração que minha cidade natal continuasse a poder juntar os motociclistas uma vez por ano. Hoje estou morando a quase 4 mil quilômetros de Bagé. E no próximo ano (2009), depois de 10 anos do meu ingresso no mundo das motocicletas, eu gostaria de entrar na Rainha da Fronteira de moto para mais um Super Moto Bagé.
Publicado originalmente em 24/11/2008
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