Álvaro L. Teixeira
31/01/2011 | Osmar contato
O mundo de hoje está cheio de equipamentos eletrônicos sofisticados e de uso diário. O celular não está há muito tempo em nossas mãos, porém não conseguimos mais viver sem ele. Algumas facilidades desses equipamentos nos deixam mais desatentos e preguiçosos. Ontem, no supermercado, passei por um senhor que falava ao celular e não pude deixar de ouvir a pergunta que fazia provavelmente à esposa:
– Levo ou não levo o pacote de bolacha Maria?
Dependendo do plano de pagamento, aquela conversa poderia estar saindo mais cara do que o pacote de bolacha Maria, mas não estamos muito preocupados com isso.
Alguns equipamentos que só eram possíveis de ser ter se comprássemos em sociedade já estão disponíveis para qualquer um hoje em dia.
Quando eu estava na faculdade de Engenharia Eletrônica, na década de 70... Eu sei, já faz tempo. Trabalhei quase um ano com dois colegas de faculdade projetando, construindo e instalando porteiro eletrônico para prédios.
Nós fazíamos o projeto e construíamos o porteiro de acordo com o número de apartamentos do prédio. Tínhamos preocupações desnecessárias nos dias de hoje. Procurávamos fazer do porteiro uma cópia da distribuição dos apartamentos no prédio. As campainhas mais altas no porteiro, para os apartamentos de cobertura.
Colocávamos em cada nível o número de campainhas equivalente ao número de apartamentos por andar. E tivemos dificuldade em um prédio que tinha apenas um apartamento por andar. Os nossos porteiros mais caros possuíam bloqueio para que os outros não pudessem ouvir uma conversa já começada. Os que mais vendiam eram aqueles em que todos podiam falar ao mesmo tempo. Para fazer o orçamento e escolher o material para o porteiro que iria ficar na entrada do edifício, visitávamos o local antes.
Com essa atitude, podíamos colocar na entrada do prédio um equipamento que não destoasse. Os prédios mais “sofisticados” tinham porteiros “normais”, não utilizavam o porteiro eletrônico.
O nosso maior inimigo era o Sr. Osmar Contato, que muitas vezes impedia o bom funcionamento do sistema como um todo. O negócio não foi adiante, porque surgiram no mercado porteiros mais baratos que já vinham prontos e não tínhamos como competir. Os quadros de campainha eram padrão e raramente coincidiam com o número de apartamentos, mas isso não era problema em função do custo bem mais baixo.
Hoje, todos os prédios têm porteiro eletrônico e as casas, também. O grande inimigo continua sendo o Sr. Osmar Contato. Eu tenho porteiro eletrônico e moro em casa. No meu caso, é só para saber quem está batendo. Não tem a abertura automática como nos prédios de apartamento.
Na semana passada, cheguei cansado em casa e fui dormir cedo. À uma hora da manhã, tocou o porteiro eletrônico. Acordamos assustados e eu levantei para ver quem era àquela hora. Ninguém respondeu, ouvi vozes na rua parecendo que um grupo tinha saído de uma festa. Imaginei que alguém tenha tocado só para se divertir e voltei para a cama.
A minha esposa me contou que antes de eu chegar da aula, por volta das 22h, haviam tocado e não havia ninguém na porta. Lembrei que havia passado em casa antes de ir para a aula e que o porteiro havia sido acionado às 18h e eu saí correndo para atender, pois achei que fosse o correio que costuma fazer entregas nesse horário. Cheguei a abrir a porta da rua e não havia ninguém.
Com essas informações, começamos a fazer conjecturas de quem poderia estar batendo à porta sem identificar ou se mostrar (três vezes na mesma noite). Será que alguma gangue estava nos observando, batendo à porta para saber se estávamos em casa? Tentamos dormir depois dessas conjecturas, mas às quatro horas da manhã a campainha tocou mais uma vez. A minha esposa levantou e avisou que estava ouvindo vozes do lado de fora da casa.
Levantei para verificar. Resolvi olhar furtivamente por cima do muro. Desbloqueei a porta da casa para poder sair para o pátio e acionei novamente o alarme, por segurança, é claro. Ao olhar discretamente por cima do muro, embaixo do poste de luz, afastado no máximo vinte metros do portão de entrada estavam quatro pessoas. Três sentados em volta de uma mesa, que estava no meio da rua, jogando dominó.
O quarto elemento estava do lado vazio da mesa, em cima de uma bicicleta. Todos eram guardas noturnos da redondeza. Não entendi nada, mas resolvi ir falar com eles apesar dos protestos femininos. Cheguei perto deles às quatro horas da manhã perguntando sobre o jogo.
Depois da surpresa inicial, deles é claro, perguntei se alguém havia passado por ali e tocado a campainha da minha casa. Eles alegaram que estavam ali desde as 23h e ninguém havia chegado perto da porta. Aleguei que haviam tocado no porteiro várias vezes naquela noite. Um deles olhou-me nos olhos e declarou:
– A sua campainha está tocando sozinha, não é a primeira vez que vejo isso acontecer!
Voltei para casa ainda com dúvidas e desconfianças. Sentamos à mesa da cozinha, comemos duas panquecas e tomamos um cálice de vinho tinto, conversando sobre o nosso desconforto. Pela manhã, cansados, começamos nossa rotina diária. Ao meio-dia, passei em uma loja de eletrônicos para comprar um novo porteiro eletrônico.
Não consegui um modelo igual, o novo era maior. Eu precisaria mexer na alvenaria para instalá-lo. Resolvi abrir para tentar concertar. Em dois dias, resolvi o problema retirando os dois Srs. Osmar Contato, um no botão e outro nas conexões internas.
Cuidado, o Sr. Osmar Contato, além de prejudicar o funcionamento dos equipamentos, pode não deixá-lo dormir à noite!
Publicado originalmente em 16/03/2009
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