Álvaro L. Teixeira
17/01/2011 | Sparadrapo
A vida nos apresenta certas situações que no primeiro momento parecem engraçadas, mas que depois nos fazem pensar a respeito.
Não lembro ao certo como começou, mas já faz um bom número de anos que preciso controlar a alimentação para não me tornar obeso. Na minha juventude, eu podia comer o que quisesse, quando quisesse e o meu peso estava estabilizado em 72 quilos.
O que para minha altura me deixava na classificação de “magro”. O apelido de “magrão” acompanha-me até hoje. Alguns amigos daquela época não perderam o costume de me chamar dessa forma. Em um determinado dia, descobri que eu já estava gordo e desde então procuro controlar o peso. Esse dia foi marcante, pois a balança mostrou a marca de 99 quilos e 700 gramas. Só faltaram 300 gramas para eu entrar nos três dígitos, e até hoje não cheguei aos famigerados 100 quilos, mas tenho andado por perto.
O controle de uma semana é perdido em um final de semana, o controle de um mês é perdido em uma festa. E assim por diante. Creio que muito mais pessoas, como é o meu caso, viveriam melhor se pesassem um pouco menos. Quando lembro como era a 22 quilos atrás, fico imaginando em que essa diferença me atrapalha todos os dias. Pensando friamente, esse peso equivale a 5 quilos de feijão, 5 quilos de arroz, 5 quilos de farinha, 5 quilos de açúcar, 1 quilo de café e 1 quilo de sal. Pode ser que não seja suficiente, mas uma família inteira pode viver, mesmo que de forma apertada, com esses 22 quilos mensais.
Para manter o controle todas as manhãs, antes de me vestir eu verifico o peso em uma balança digital. Não posso dizer que estou obtendo sucesso em perder peso, mas pelo menos estou ganhando peso mais devagar. E aprendendo o que devo fazer para deixar de ganhar e começar a perder.
Outro dia, fui à farmácia com meu filho para comprar colírio e esparadrapo. Fiquei no carro esperando, localizado a menos de dois metros da balança. Aquela que quase todas as farmácias têm. Lembram quando íamos à farmácia para saber como estava nosso peso? De onde eu estava, não conseguia ver o resultado. Mas como as balanças digitais têm o visor um pouco acima da nossa cintura, eu podia ver com clareza a expressão de cada um que subia na balança para constatar o seu peso. A expressão de desconfiança no resultado apareceu na maioria dos rostos.
Entrou um casal de mãos dadas, não comprou nada, e foi direto para a balança. A mulher subiu primeiro, ainda existem homens educados, mas foi chamada a atenção pelo peso. E o homem não queria subir na balança. E quando subiu, a mulher apontou o visor e riu. Saíram de mãos dadas, mas as caras estavam fechadas. Depois, subiu um senhor que posso chamar de mais gordo do que eu, com uma barriga que não permite mais enxergar os pés. E que deve dificultar muito para atar os sapatos.
O celular que estava na sua mão foi colocado em cima do freezer de sorvete localizado ao lado. Assim que ele viu seu peso, tirou do bolso outro celular e foi colocado lá também. A carteira foi retirada do bolso traseiro para aliviar o peso. O maço de cigarros e isqueiro saíram do bolso da camisa também. A fila atrás dele começou a criar-se e a crescer.
Os óculos que estavam pendurados no pescoço acompanharam o resto. As chaves que estavam presas à cinta também foram retiradas. A cara era ainda de espanto. Eu estava observando e não sabia como ajudar. Pensei em avisar para ele tirar o relógio. Foi nesse momento que ele levantou a cabeça e me viu.
Fiquei envergonhado por ele. Porém ele não ficou. Olhou para mim e disse:
– A balança está marcando 105 quilos, e já pensei em tirar a roupa, mas acho que posso ser preso. E começou a rir.
Fiz um sinal de aprovação com a cabeça, mas não consegui dizer nada.
Raramente fico sem palavras. E ele continuou.
– Segunda-feira, vou começar um spa.
– Um spa! – exclamei em tom de surpresa.
– É, um “sparadrapo”...
O meu filho entrou no carro com o colírio e o esparadrapo, que, pelo jeito, vai ser muito útil.
Publicado originalmente em 09/02/2009
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