Iane C. Alvares
28/10/2010 | O furo é mais embaixo?
Outro dia, passando por vilas de Viamão e vendo alguns casebres miseráveis, fiquei imaginando se as pessoas que lá vivem têm alguma noção do significado do que ocorre com nosso país, ou mesmo do que está ocorrendo com eles. Achei que talvez não tenham. Porém isto traz, para nós, que temos mais acesso ao conhecimento, mais responsabilidade e dever de não ficarmos apenas como meros espectadores. Por outro lado, o que podemos fazer? Digo, cada um de nós individualmente?
Enquanto a situação em Brasília desanima, vamos tentar descobrir o que nós, cidadãos comuns ou nossas pequenas prefeituras podemos ir fazendo. Vamos refletir para ver o que está errado e o que pode ser feito por cada um. Por mim o furo é mais embaixo.
Tenho observado a preocupação de algumas prefeituras, com a educação e saúde das crianças. Ainda existem muitos políticos e mesmo pessoas simples da comunidade, que estão tentando fazer algo, que acreditam que é possível. Mas quanta miséria ainda sobra! Acho que o furo ainda é mais embaixo.
Observo que as crianças recebem merenda, material escolar, assistência médica e odontológica. Vejo voluntários levando música, dança e mesmo o escotismo para comunidades carentes. Vejo muitos pais sendo assistidos, inclusive com acesso à psicoterapia. Mas também vejo que parece que a situação não sai do lugar, o furo é mais embaixo.
Alguns destes mesmos meninos saem da escola no final do dia e vão para as ruas, para o tráfego, as meninas para a prostituição, ou os que optam por voltarem para a casa encontram, muitas vezes, os pais bebendo e se agredindo e logo, logo estarão nas ruas. Estes não conseguem aprender, o índice de reprovação na escola é grande. Tenho a impressão que não conseguem aproveitar o que recebem na escola, são encaminhados para os centros de saúde e não comparecem. Quanto mais recebem, mais para trás andam. Então, o furo é mais embaixo.
Vejo outros recebendo tão pouco na escola, vivendo numa situação financeira beirando a miséria, mas que mantêm sua honestidade, procuram a ajuda que lhes é oferecida, as crianças passam de ano e a esperança de momentos melhores os impulsionam para a frente. Fico me perguntando onde está a diferença. E sempre acabo com a sensação de que o furo é mais embaixo. Mas, onde?
Penso nas famílias que, dizem, estão se transformando, mas se transformando em que? Estão todos perdidos, as relações afetivas em ruínas. Frente às primeiras dificuldades os casais se separam, não toleram as mínimas diferenças, e saem em busca de algo que não sabem bem o que é, mas estão sempre buscando. Uns nem esperanças de encontrar possuem. Famílias se transformando? Algumas sim, mas na maioria o furo é mais embaixo.
Estudos e pesquisas sobre a delinquência e a drogadição apontam para conclusões onde o fator determinante não é a miséria, mas a falta de uma mãe e de um pai na família, a falta de uma família estruturante da personalidade. Falta a esperança. Acredito que o furo está aqui. Falta esperança e confiança. Confiança nos pais, na família. Falta confiança nas autoridades, nos amigos e nos professores. Falta confiança na vida, falta esperança no futuro. Falta confiança e esperança em si próprio. Falta confiança. Ou o furo ainda é mais embaixo?
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