Iane C. Alvares
25/11/2010 | Essas Mulheres e Esses Homens
Estamos convivendo, simultaneamente, com pelo menos 4 gerações de mulheres, numa época em que o papel feminino, ou melhor dito, a “identidade de papel de gênero,” tem evoluído de geração para geração.
Examinemos a primeira destas gerações, constituída por mulheres com 70 anos ou mais. Cresceram na primeira metade do século passado, aprendendo que seu destino era casar e ter filhos. Muitas chegavam a estudar, mas apenas as que perigavam ficar para “titias”é que pretendiam traçar um plano de carreira.
Estas mulheres eram dependentes e obedientes primeiramente aos seus pais e depois aos seus maridos. Algumas, depois dos filhos crescidos, desafiavam a sociedade e a si próprias e se arriscavam a trabalhar, geralmente como professoras primárias ou, no máximo, como enfermeiras. Estas foram exceções.
Com o passar dos anos, esta geração conquistou certa autonomia e podemos vê-las em grupos, alegres, saindo à noite para jantar, caminhando pelos parques, ou mesmo “flertando”.
As filhas destas mulheres têm hoje por volta de 50 anos. Nasceram nos anos 50 ou 60 e tiveram o desafio e, muitas vezes a exigência, por parte de suas companheiras, de se independizar, de mostrar que eram capazes de ser “iguais aos homens”. Quando falavam em igualdade, referiam-se ao trabalho, aos direitos e à independência financeira.
Foi uma geração um tanto quanto confusa, um tanto quanto privilegiada. Confusa por ter que desempenhar um papel para o qual não tinha modelo em que se espelhar. Suas mães já não eram mais o tipo de mulheres ideais, ser como elas era mesmo vergonhoso.
Deveriam protestar, ser independentes. Estávamos nos anos 70 quando se lutava contra a ditadura militar e a ditadura dos homens. Não podiam aceitar as normas anteriormente vigentes, mas também não sabiam bem o que esperar desta mudança.
Por que um tanto quanto privilegiadas? Considero que houve uma certa possibilidade de escolha. Algumas optaram pelo casamento tradicional, largaram a profissão e se tornaram mães e donas de casa. Outras escolheram tentar conciliar profissão com filhos e marido. Mas a grande maioria continuava colocando em primeiro lugar o lar, deixando a profissão apenas num grau de importância que não atrapalhasse seu “papel feminino”.
Muito rapidamente, esta situação foi mudando e suas filhas, hoje jovens adultas com 25 ou 30 anos, já não sofrem do conflito entre dedicar-se ao lar ou à profissão, mas também não têm o privilégio de escolher. Elas precisam ser independentes, não podem depender financeiramente dos maridos, até porque eles são passageiros. Lutam por suas carreiras em primeiro lugar, se ter filhos ou marido não atrapalhar o trabalho, até podem se aventurar. Os homens já não as sustentam e elas não querem que o façam.
Para que surgisse esta nova mulher, também teve que surgir uma nova geração de homens. Eles tiveram que se independizar da mulher emocionalmente e nos afazeres domésticos. Aprenderam a cozinhar, a passar suas camisas e quando querem ter filhos, dividem não só a mensalidade da creche, mas também as noites em claro, as trocas de fraldas, se revezam nas reuniões da escola e dividem as preocupações com o desenvolvimento dos filhos.
Estes novos casais estão tendo filhos e transmitindo a eles mensagens bem diferentes das que receberam de seus pais quanto ao que é ser homem ou ser mulher.
Em tempos em que se fala muito na aceitação das diferenças, estas 4 gerações tão diferentes de mulheres e homens conseguem conviver, não sem conflitos, mas tentando se compreender e sabendo que uma ajudou a outra a dar o próximo passo.
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