Fábio B. Salvador
08/03/2016 | Somos cada vez mais rádios dessintonizados
No despertar da juventude, pensando saber muito sobre a vida, a gente lê alguns pensadores, toma conhecimento de algumas ideias e sai divulgando-as, refutando-as ou querendo inová-las. Filósofos juvenis, sonhando revolucionar a filosofia e a sociedade. Fui um desses.
Perguntei ao meu amigo Sadi, trinta anos mais velho, e ele disse que sua turma de colégio entregava-se à mesma prática. Ele mesmo fora um desses “sábios” imberbes. É uma prática antiga, de séculos: os grandes filósofos da humanidade também fizeram isso – a diferença é que suas obras tinham realmente conteúdo para atravessar o tempo.
Com a internet, acreditei que veríamos gerações inteiras de grandes pensadores em potencial pululndo na rede, e que isso seria divertido e instigante, que a humanidade ganharia muito na busca pelas grandes verdades da vida. Mas alguma coisa deu errado.
As pessoas hoje, com preguiça de ler, de pesquisar, de pensar, têm contato apenas com resumos, análises, artigos de opinião, ideias e fatos interpretados por alguém normalmente ligado a algum grupo de interesse.
Na analogia do Sadi, “as ondas estão aí, no ar, mas as pessoas viraram rádios sem antenas” (e só tocam os mesmos CDs).
Acabamos presos a algumas discussões, a revoltinhas socialmente aceitas, a uma militância “cool” para algum lado, segurando bandeirinha. Ou então, à erudição vazia que só serve para massagear o ego. Ou ainda, a uma alienação que busca a felicidade não na verdade, na plenitude, e sim em algumas formas de “anestesia”.
Vivemos sob bombardeio de informações, presos 24 horas à lógica da manada, aplaudidos ou vaiados a cada frase. Escreve-se para a torcida, não para desafiar o senso comum ou para dizer alguma verdade que sentimos latente, profunda. A leitura, do outro lado, não é mais um ato de curiosidade, e sim a busca por autoajuda, autoafirmação, ou munição para debates.
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