Fábio B. Salvador
19/09/2017 | A multidão que não pensa nem deixa pensar
Quero iniciar este texto pedindo desculpas: eu normalmente não uso este espaço para reclamar mas, hoje, preciso mesmo fazer um texto mimimizento.
Uma dúvida me assombra: o mundo todo está se imbecilizando em massa, ou o Facebook, principal rede social da atualidade, é que congrega e promove a tacanheza?
Em um vídeo no qual uma militar reclamava de ter sido humilhada por seu superior em público, a maioria dos comentários falava de “mimimi”. Ninguém parou para pensar que não se admite o assédio moral, que houve falta de preparo para a chefia, que humilhar subalternos em público mancha a própria imagem da instituição. Dizer isso virou “comunismo”. (como assim?)
O debate sobre a tal exposição do Santander é outra vergonha: em um certo grupo, se você disser qualquer coisa que não sejam louvores às obras, é porque é fascista. Em outro, quase a mesma coisa, mas com sinal invertido. Fui até banido de um grupo só por questionar a qualidade técnica de um dos desenhos.
Se você ousa não expressar concordância total, se não usa os chavões certos, aciona-se o alerta vermelho nas cabeças dos moderadores.
Em um post (técnico, alias) sobre pedofilia, percebi que quase ninguém entendia a diferença entre o abuso de menores (que é um crime) e a pedofila (que é um transtorno da mente, que pode ou não levar ao crime). As tentativas de esclarecer aos desavisados sobre o teor médico-científico do artigo eram encaradas como um “atestado de pedófilo” colado na testa do autor. O debate obviamente não avançou.
Em uma comunidade católica, fiz uma pergunta perfeitamente válida sobre a primazia (Bíblia ou Igreja) baseada, aliás, nas Escrituras. Católicos malucos entenderam aquilo como uma ofensa, e ficaram histéricos. Evangélicos malucos entenderam aquilo como um ataque ao catolicismo e me apoiaram, também histericamente. Desisti.
Fui percebendo a inutilidade de expressar qualquer coisa com argumentos em qualquer espaço.
Tampouco é útil expressar ideias no próprio perfil, “acender uma vela no meio da escuridão” como dizia Jânio Quadros. O Facebook está superpovoado e todo mundo está postando ao mesmo tempo. Se você não for uma celebridade e não estiver disposto a pagar por repercussão, você fala com as paredes.
É que ninguém mais está interessado em chegar a novas conclusões sobre nada. O grande esforço, o que está na moda, é demonstrar adesão explícita, sabuja, a chavões e radicalismos caricatos A ou B.
É como dizia a velha piada soviética, na qual dois sujeitos estão conversando:
- Você viu no (jornal) Pravda de hoje, a nova política econômica?
- Vi, sim. Foi uma reportagem bem completa.
- E você já tem uma opinião sobre o assunto?
- Não, ainda não. Espero que eles a deem no editorial do Pravda amanhã.
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