Fábio B. Salvador
05/09/2017 | Dário Di Martino, o profeta esquecido do anticomunismo
Às vezes, na vida, temos uns amigos esquisitões que dizem coisas aparentemente sem sentido cujo valor (das coisas que dizem, não da pessoa) acabamos descobrindo muitos anos depois. Este é o caso do jornalista e meu amigo Dário Di Martino Jr.
Vocês talvez o conheçam. Em certa época, ele foi um “meme” do então nascente Youtube. Se estiver curioso, procure por “candidatos bizarros”. Entre os palhaços, pastores malucos e outras atrações do picadeiro eleitoral, vocês verão o emblema do PRONA – partido folclórico em si – em um cenário em chroma key precário no qual Dário, um sujeito magro, muito furioso, atravessava a tela até sumir, voltava, esbravejava, e concluía sempre suas falas com o lema integralista: “Deus, Pátria e Família”.
Acontece que, além de fazer seu papel de candidato bizarro da direita (em uma época na qual NINGUÉM era assumidamente de direita), e de gravar um programa na POATV (sim, ele era teu colega, Orlandini!), Di Martino escreveu alguns livros.
Há algumas semanas, fiquei sabendo do projeto do deputado Eduardo Bolsonaro, propondo a proibição do comunismo no Brasil. Em uma das montagens relativas ao projeto, notei uma imagem peculiar: o símbolo da foice e do martelo com uma faixa de “proibido” como nos sinais de trânsito. Era a capa de um livro do Dário – um livro de 2005 que quase ninguém leu, e que não foi jamais citado pelos Bolsonaros mas, de alguma forma, estava ali. Ou seja, alguém lá em Brasília, talvez um assessor, leu. Alguns dos argumentos do projeto, aliás, parecem ter saído ipsis litteris das páginas da obra.
Para quem ficou curioso, revelo o nome do livro: “É Proibido!” - assim, curto, direto e óbvio.
Ao longo das páginas, vamos lendo uma história de horrores: em todos os regimes comunistas até hoje, sempre foi necessário criar governos centralizados e ditatoriais para enfaixar economia e sociedade em uma marcha unidirecional. E a manutenção deste tipo de ordem totalitária sempre passou por prisões políticas, massacres, tortura e exílios. No final do livrinho, Dário argumenta que não faria sentido proibir o nazismo e aceitar o comunismo, observando a contabilidade de mortos dos dois regimes. Bingo! Eis a base de tudo o que se diz sobre o assunto hoje.
Aquele sujeito que conheci há 16 anos atrás – eu estudante de jornalismo, ele o entrevistado, candidato apoiador do Enéas – na verdade antecipou o “despertar” que o Brasil hoje experimenta em relação à esquerda. Pagou o preço do pioneirismo: agora que a direita está na moda, que um Nando Moura faz sucesso no Youtube, que multidões anunciam que “Olavo tinha razão”, que um Bolsonaro pode ser presidente, Dário Di Martino Jr vive mais ou menos discretamente, perto do mar, em Cidreira.
Mas ele tinha razão.
É Proibido! - Jornalista Dário Di Martino
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