Fábio B. Salvador


12/07/2016 | Uma nota sobre o antissemitismo

Ultimamente, usa-se muito a palavra “antissemitismo”, até para falar de política internacional. O Estado de Israel usa-a muito, em suas comunicações. Este textinho serve de esclarecimento, inclusive para os camaradas da CONIB e de outros órgãos, que cometem algumas confusões em suas notas de imprensa. Os partidos de esquerda pró-causa palestina também promovem um chorrilho de bobagens que precisam de resposta.

Assim, aqui vão alguns conceitos:

OS JUDEUS, um povo caracterizado por costumes, religião, e (mais ou menos) por etnia (mas não necessariamente, porque existem judeus por conversão), são essas pessoas que vivem em todos os lugares do mundo (no Bom Fim, maciçamente), e que podem sofrer – e sofrem – o antissemitismo. A palavra designa o ódio aos judeus e ao judaísmo.

O ESTADO DE ISRAEL é um país, apenas isso: um país. Como o Brasil, como o Líbano, como a Rússia. Israel não é O JUDAÍSMO. Como Estado Nacional, Israel tem suas leis, suas posições, suas políticas, suas alianças e interesses, que podem ser ou não apoiados por outros países. O não-alinhamento, ou até a guerra com o Estado israelense, não constituem antissemitismo. Não há nada de mais ou menos maligno, por exemplo, entre discordar de Israel e discordar do Paraguai.

O POVO ISRAELENSE, definição que não tem NADA A VER com a prática do judaísmo, é formado por aquelas pessoas que possuem cidadania ou vivem no Estado de Israel. Uma boa parte do povo israelense, aliás, é de não-judeus: árabes, cristãos, e até pessoas que nasceram em famílias judias mas tornaram-se ateias. Embora o Estado de Israel seja abertamente judeu e só aceite judeus em alguns postos, nem todo israelense é judeu, assim como nem todo judeu no mundo é israelense.

O GOVERNO DE ISRAEL, que em nada é diferente de qualquer outro governo no mundo, tem sua visão política, econômica, e seus interesses geopolíticos e militares. Ao contrário da crença popular, nem todo israelense concorda com as políticas do governo de Israel. E, da mesma forma, nem todo judeu (israelense ou não) concorda com este governo. Há partidos de oposição em Israel, como em qualquer outro país democrático do mundo.

ENTÃO: opor-se ou denunciar práticas do Estado de Israel não é antissemitismo. Promover uma política internacional que não contemple os interesses daquele Estado Nacional não é antissemitismo. E discordar do GOVERNO israelense não é antissemitismo. Nem mesmo um boicote a Israel, desde que puramente fundado em razões de política internacional, seria antissemitismo.

DO MESMO MODO, culpar o seu vizinho judeu, o seu colega de trabalho judeu, pelas políticas do Estado de Israel, é uma babaquice tremenda, e é SIM antissemitismo. Olhar para o judaísmo e os judeus com raiva proporcional à provocada por algum pronunciamento sem noção do presidente de Israel, também. Acredite: não, o judeu que mora no apartamento ao lado não está necessariamente aplaudindo o bloqueio da Faixa de Gaza.

OS PROTOCOLOS DOS SÁBIOS DE SIÃO

O sentimento pró e contra os judeus, por parte de quem acompanha o noticiário sobre o Oriente Médio, segue uma série de “lógicas” absolutamente sem nexo. Vejamos:

Acreditar que todo judeu pensa como o presidente de Israel é, no fundo, achar que os judeus têm uma mente coletiva única, interligada mundialmente (como os Borgs, da série Jornada nas Estrelas).

Pode parecer surpreendente para antissemitas paranoicos e evangélicos defensores da teoria do “povo divino”, mas os judeus são um grupo populacional como qualquer outro, não uma raça alienígena de seres superiores (ou inferiores, ou inerentemente malignos) a serem adorados ou exterminados.

O livro “Os Protocolos dos Sábios de Sião”, documento que é sempre exposto como símbolo da maldade judaica – e citado em pleno 2016 como “motivação oculta” para a nomeação de um israelense como ministro no Brasil - é sabidamente uma fraude. Aliás, 100% comprovadamente uma fraude.

O texto envolve não só os judeus, mas a maçonaria, em um plano maligno, digno de um vilão de filme do Batman, para destruir o mundo ocidental.

Esses “Protocolos” ainda são levados a sério por muita gente, então, cabe aqui detalhar: os planos terríveis dos tais “sábios de Sião” consistem de um pastiche de trechos plagiados da obra “Diálogos no Inferno Entre Maquiavel e Montesquieu”, da obra de um alemão que já havia plagiado os “Diálogos”, e da imaginação (pouco) fértil do agente russo que compilou a “obra prima”.

O caráter fraudulento e plagiarista dos Protocolos foi denunciado em uma obra de 1921. Então, o discurso da “conspiração judaica mundial” perdeu seu principal fundamento há quase cem anos.

AGRADECENDO...

Agradeço, de coração, aos bravos leitores que ainda acompanham até o final um texto com estas dimensões, ainda por cima sobre um assunto um tanto pesado. E peço que repensem suas atitudes com relação aos temas expostos.


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