Fábio B. Salvador


11/12/2018 | O capitalista comunista

Roberval começou a trabalhar cedo. Carregou caixa na feira, atendeu telefone em escritório, estudou como louco e finalmente montou sua própria empresa. la bem. Faturava alto. Empregava um monte de pessoas.

Um dia, viu no noticiário as histórias de alguns empresários cubanos que, depois da revolução de 1959, perderam a propriedade de suas empresas. Afinal, em Estados socialistas, não há empreendimento privado. A história fez Roberval, de tão assustado, rezar - rezar! Ele, que não ia à igreja desde o próprio casamento, muitos anos atrás.

Longe de Cuba, no entanto, sua vida seguia muito bem. Até que, um dia, o mercado ficou inundado de concorrentes, multinacionais e novos players que vinham com estratégias agressivas. Seus dias foram ficando progressivamente mais trabalhosos. A "luz" entre receitas e despesas, mais estreita. Quando ela sumiu nos gráficos, teve que demitir gente.

Roberval fazia contas, supervisionava tudo o que podia, cortava custos, tentava maximizar receitas ... e até sobrevivia. Chegava em casa exausto, os filhos já dormindo, a esposa sentada na cama esperando-o para jantarem. Às vezes, chegava tão tarde que encontrava-a dormindo, o prato vazio na mesa de cabeceira. Nessas noites, ia à cozinha silenciosamente, requentava um prato para si, comia correndo e caía na cama, para recomeçar tudo no dia seguinte.

O golpe de misericórdia veio com uma mudança na legislação que obrigava a empresa a fazer um grande investimento, comprar novos equipamentos e mudar um monte de coisas na linha de produção. Roberval lutou. Ah, ele lutou! Ele e outros empresários. Mas no fim, tiveram que ceder.

E assim, nosso amigo, determinado a seguir no mercado, levantou um grande empréstimo, vendeu a casa da praia, vendeu seu segundo carro, e adequou-se à nova norma. Na inspeção, problemas: ainda faltavam ajustes. O fiscal foi implacável. "Vou falar com o chefe desta repartição", disse, pouco antes de ser novamente trucidado, agora pelo burocrata mais arrogante de todos.

Ah, pobre Roberval ... exausto, desiludido, patrimônio dilapidado, e agora falido ... Não fosse a última inspeção, só o empréstimo contraído o mataria. E assim o fez: em alguns meses, estava fora da jogada. Os empregados, todos na rua, abrindo processos na tentativa de receber seus direitos.

Quanto ao protagonista desta história, bem ... ele sobreviveu por algum tempo fazendo bicos, tirou até um CRECI e vendeu alguns imóveis, tentou uma lojinha ... desdobrava-se todos os dias só para garantir a comida na mesa da família à noite.

Até que, por uma dessas sortes do destino, um amigão seu de infância conseguiu eleger-se prefeito da cidade. Sabendo da desgraça de Roberval, convidou-o para comandar a empresa estatal de água.

Ah, que beleza! Trabalho de segunda a sexta, hora para sair (nem tanto para entrar), e faturamento garantido. Sem concorrência e sem chance de surpresas. Orçamento previsível. Férias anuais, décimo-terceiro e tudo mais. Ali adiante, quem sabe, até a chance de dar um cambalacho e faturar um "extra".

Sentado, olhando pela janela de seu escritório, lembrava-se do caso daquele grande empresário que teve sua empresa tirada de suas mãos pelo governo cubano e recebera a proposta, do próprio Fidel, de comandar uma estatal. "Aquele cubano burro recusou", pensava ... e ria baixinho, para si mesmo.


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