Erner Machado
29/11/2011 | Bancos Brasileiros
Um amigo comentou sobre o alto valor que paga ao banco por um talão cheques, um extrato ou um doc. Comentou que acha que é por isto que os bancos lucram tanto.
É, também, por isto.
Mas tem mais coisas para justificar o sucesso do sistema bancário brasileiro.
Durante a conversa me lembrei que quando comecei a ser bancário, em junho e dezembro, os bancos calculavam e creditavam nas contas dos clientes os juros que lhes eram devidos por terem confiado suas economias para depósitos à vista.
Com a reforma bancária de 1967, esta pratica foi abolida e os depósitos à vista deixaram de ser remunerados. Na década de 80 com a espiral inflacionaria os bancos começaram a pagar taxas altas por aplicações de Renda Fixa para 90 dias. Isto permitia, que o Banco emprestasse, no varejo, em prazos de 30 dias, a tomadores de empréstimos, o equivalente a três vezes o valor aplicado por seus clientes. Sem colocar um tostão de recursos próprios.
Em decorrência da diferença de taxas pagas e recebidas, os bancos brasileiros obtiveram grandes lucros, além ficarem entre os mais sofisticados e desenvolvidos do mundo.
No governo Itamar Franco, com a politica econômica do Sr. Fernando H. Cardoso, então Ministro da Fazenda, a curva inflacionaria foi decrescendo e com ela o tamanho das taxas tanto na captação quanto na aplicação foram, também, sendo reduzidas. Nos dois governos de FHC e nos de Lula, seu sucessor, a atitude de queda da taxa Selic determinou que por quase duas décadas a politica de juros se mantivesse estável.
Aparentemente, isto é um golpe para os bancos em qualquer país do mundo. Mas não o é para o nosso sofisticado sistema bancário. Algumas medidas precisavam ser tomadas para garantir que o sistema continuasse funcionando dentro de uma normalidade que não alterasse os destinos da politica econômica do país e o lucro do sistema bancário.
Dentre os inúmeros procedimentos, com a conivência dos presidentes Itamar, FHC e Lula, as mentes brilhantes do Sistema Bancário adotaram os seguintes caminhos:
a) Reduziram, drasticamente, os Recursos humanos empregados no sistema e, como uma cortina de fumaça para afastar possíveis reclamações aumentou, exponencialmente, a sua rede de atendimento, mediante postos de serviços avançados (bancos privados) e credenciamento de agentes, via convenio com Casas Lotéricas (CEF, banco do brasil, bancos estaduais) para atendimento de toda a sorte de pagamentos ou recebimentos. Com isto aumentaram o nível da capilaridade do atendimento e reduziram o custo de pessoal, por transferência de tarefas, obtendo uma economia real na ordem de 90%
b) Criaram novas categorias funcionais de ingresso, com salário muito baixo, para admitir a grande massa de jovens que, desempregados, acorrem aos milhares para inscreverem-se em concursos do Banco do Brasil, da CEF e dos demais bancos oficiais, para obterem um emprego estável com alguns benefícios sociais, mesmo que um salário miserável. Estes concursos tem ainda uma taxa de inscrição o que torna o processo realizado a custo zero. Na maioria das vezes a conta de Concursos, constitui-se em mais uma fonte de rentabilidade dos Bancos.
c) Com a ajuda dos governos, os bancos, oficiais e privados são os agentes arrecadadores de todos os impostos e taxas devidos a união, aos estados e municípios. Isto lhes garante um ingresso de todo o volume da carga tributária nacional, a custo zero, com repasse posterior para as contas devidas, cujos valores ficam, novamente, depositado no sistema. Os impostos e Taxas Federais, nos Bancos Oficiais Federais, os estaduais e municipais, geralmente, nos bancos dos estados respectivos. E, os bancos ainda recebem remuneração em decorrência do acolhimento de depósitos destes impostos e taxas.
d) Com a conivência do Estado Brasileiro, os bancos remuneram a poupança a juros 0,50% ao mês mais a variação da TR o que resulta em um custo de menos que varia de 0,60% a 1% ao mês para o poupador. De igual sorte, aplicações de grande valor em renda fixa ou fundo de investimento obtém, no máximo, a rentabilidade da taxa Selic. Paradoxalmente, o sistema aplica junto aos tomadores de recursos via produtos tipo cheque especial, capital de giro, desconto de duplicata, cdc, financiamento de veículos, e qualquer outra modalidade de crédito, a taxas que variam de 6% a 10% ao mês. Quer dizer o sistema paga, no máximo 12% ao ano e aplica a ,no mínimo, 100% ao ano.
e) Com o aval do governo do governo presidente Lula e, agora, da presidente Dilma, o sistema empresta dinheiro para os aposentados, consignado em folha de pagamento, com risco zero e taxas que chegam a 50% ao ano.
f) Respaldado na Lei, todo o devedor do sistema, que deixar de lhe pagar, é inscrito em Créditos em Liquidação. O valor do empréstimo lançado nesta rubrica e registrado em Prejuízo e abatido diretamente do Imposto de Renda Devido pelo Banco. O devedor, no entanto, continua com a obrigação de pagar o débito contraído.
g) O Banco, aparentemente, beneficiando o cliente devedor, oferece-lhe desconto sobre o valor do débito. O cliente, para ter seu nome limpo, paga o valor que lhe é oferecido. Com isto o Banco, além dos juros embutidos no débito original, recebe do cliente o que, efetivamente, já recebeu, via abatimento do Imposto de Renda a Pagar.
Durante a conversa o meu amigo começou a ficar irritado com as minhas explicações e encerramos o assunto, para evitar raivas e ressentimentos impotentes. Concluímos, no entanto, que neste país, não existe negócio melhor que o do banqueiro, pois recebe dinheiro de graça da arrecadação do governo, cobra taxa para manutenção de depósito à vista, tem uma enorme quantidade de lotéricos e pontos de atendimento que fazem toda a arrecadação, pagamento de saques, aberturas de contas e outros serviços, a custo muito baixo, quase zero.
Quando lhe emprestam dinheiro (poupadores e aplicadores) paga menos de 1%. Quando aplica dinheiro (tomadores de recursos pessoas físicas e jurídicas) o faz a taxas que variam de 6% a 10%, ao mês!!!
Tem poucos funcionários, com custo de salários muito baixo. Cobra, dos clientes por qualquer tipo de atendimento e serviço, tarifas médias acima das praticadas em outros países do mundo. Se ressarce, perante a União, de contas que não lhe são pagas e fica com o direito de cobrá-las do devedor original. Se quebrar, o governo garante os créditos de seus clientes. Seus dirigentes, raramente são responsabilizados...
Concluímos, finalmente, que o Brasil é o paraíso dos bancos e que, por depender deles para financiamento da classe política permite, que o sistema que eles integram, se locuplete do dinheiro que deveria financiar a criação de empregos, o saneamento básico, a saúde, a educação, a cultura do povo brasileiro.
Este mesmo povo que come calango no nordeste, que tem emprego escravo no sul, que nas sinaleiras vira assaltante, traficante ou assassino, que morre soterrado sobre a terra dos morros de Santa Catarina, do Rio de Janeiro e de Salvador ou mata a sua fome comendo galinhas podres dos lixões periféricos de nossas capitais.
E por isto, meus leitores, no capitalismo, os Bancos serão sempre eternos...!!!
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