Erner Machado
11/02/2013 | De Mala de Garupa e de Tamancos
A minha irmã Rosa e o meu cunhado Jorge, quando vem me visitar me trazem, sempre, uma lembrança.
Ano passado trouxeram-me uma Mala de Garupa, feita de brim encorpado e capaz de aguentar uma arroba em cada lado.
Como não ando mais a cavalo e não tenho mais arreios, usei-a para armazenar meus sonhos.
Tenho a certeza de que, ali, estão bem guardados. Às vezes, nas madrugadas ou nos crepúsculos dirijo-me, silenciosamente, à minha Mala de Garupa e pego um sonho e passo a vivê-lo.
O convívio com este sonho me permite ter os olhos no presente e a mente no futuro como uma forma de, a cada sonho que pego da minha Mala, refazer minha crença em mim e no meu mundo. O presente, deste ano, foi um Par de Tamancos. De madeira e couro, como os antigos.
Com estes tamancos os homens que povoaram a minha infância, construíram seu mundos pisando sobre a flechilhas dos campos, e enfrentavam seguros, todos os tipos de espinhos, pedras e tocos que infernizavam os pés dos menos avisados que não usavam tamancos.
Iam, de manhã, para as mangueiras tirar leite das vacas, com seus tamancos, quebrando o gelo das invernias da pampa.
Muito obrigado minha irmã e meu cunhado pela Mala de Garupa onde guardo, seguros, os meus sonhos e pelo par de Tamancos que me protegerão quando eu, ao vivê-los, me encontrar com os mormaços dos verões ou com as geleiras dos invernos da minha vida e topar, desavisado com algum espinho ou com tocos pontiagudos das minhas estradas.
E, assim, com a Mala dos meus sonhos e com meus Tamancos, sigo enfrentando o mundo de chapéu torto e peito aberto....
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