Erner Machado
09/01/2017 | A morte das palavras
Entrei na imensidão silenciosa e vazia...
Da casa, onde eu sabia, habitavam seres humanos.
Andei por corredores infindos
Como um ermitão a busca de um abrigo.
Até que no último degrau de uma escada
Me encontrei em frente a uma grande sala
Onde centenas pessoas, em sofás,
Que afundavam corpos,
Encontravam-se sentadas.
Em completo e pesado silencio.
Rostos sérios, olhares vagos em
Faces inexpressivas e singulares.
Sentei-me em um sofá que, vago estava,
E comecei a fazer uma análise, despretensiosa
Dos silêncios e dos olhares alheios a minha presença.
Pelo Bluetooth do meu iPhone pude captar as notícias
Que estavam sendo vistas por todos os circunstantes:
No YouTube estava passando, silenciosamente,
A cerimônia fúnebre das palavras,
Que haviam sido assassinadas, em um acidente
Que vitimou, também, o diálogo...
Ambos foram enterrados, sem cerimônia e sem despedida.
Uma mensagem no WhatsApp, comunicava aos usuários,
Que um novo tempo começava...
E todos, magnetizados, dominados, entregues,
Fascinados, inebriados,
Estavam convictos não mais ser possível que voltassem a falar,
A cantar, a chorar de alegria ou de dor, sob o som
Alegre ou triste das palavras que morreram
E que inúteis seriam, no novo tempo que viria
Cheio de silêncios, de ausências, e olhares vazios
Que se perderiam no tenebroso céu
Da individualidade impenetrável de cada um...
Gritei para as pessoas..., mas não ouviram!
Fugi daquela sala, com medo, muito medo
De me tornar silencioso e sem palavras...
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