Erner Machado
21/05/2013 | MÉDICOS ESTRANGEIROS NO BRASIL
Em resposta a um comentário de um amigo eu disse, há dias atrás, que não tinha opinião formada sobre o assunto. Após algumas reflexões consegui estabelecer algumas conclusões que me permitem, agora, fazê-lo, dizendo: A profissão de médico no Brasil foi destinada, sempre, aos alunos oriundos da Casa Grande que cursaram os melhores colégios, onde existiam os melhores professores e o melhor ensino.
Era a Classe dominante formando profissionais da medicina que seriam, também, classe dominante para não fugir aos costumes. Os filhos dos grandes fazendeiros, dos grandes comerciantes, dos grandes capitalistas quando se formavam tornavam-se médicos cujo dever profissional era exercer a medicina, mas cuja cultura, costumes e conveniências os obrigavam a ficarem nos grandes centros onde o conforto, o lazer e os relacionamentos eram os mesmos propiciados pelas posições de poder das Casas Grandes de onde viam.
Estou descrevendo um roteiro de séculos que começou na Escola de Medicina em Salvador, na Bahia, e que se perpetua até hoje em todas as Faculdades de Medicina do Brasil. O médico, com raríssimas exceções, se forma para continuar rico ou se tornar rico. E não pode continuar rico ou se tornar rico, indo trabalhar em Cacequi, em Rosário do sul, em Tarauacá, em Soure, ou em qualquer outro lugar onde não exista um mercado com recursos suficientes para remunerá-lo de forma a que atinja seus objetivos.
A Casa Grande cria homens e mulheres para o conforto, para o luxo, para o consumo, para os relacionamentos nacionais e internacionais, para os espetáculos refinados de Arte que, somente, os grandes centros urbanos podem oferecer. Por outro lado nas cidades do interior, não existem possibilidades de que um profissional da medicina continue atualizado, desfrutando dos novos conhecimentos que chegam a cada minuto e que são importantíssimos para que avance nos conhecimentos científicos de sua profissão.
Se, por questões seculares de ordem social, cultural, econômica e financeira, os médicos não tem motivação para se interiorizarem, por questões de qualidade e de desenvolvimento profissional e cientifico eles não a têm, também, para saírem dos grandes centros.
Há Alguns anos, os médicos, por uma questão de progresso cultural e social, já não são mais oriundos, somente, da Casa Grande e, nas faculdades de medicina, já vê representantes da classe média ou até da classe pobre.
Mas mesmo que diferentes na origem, eles são iguais pela necessidade de estarem em contato com o progresso, com as tecnologias, com a modernidade de sua ciência, com a atualização permanente. Esta igualdade os obriga a ficarem aonde existe possibilidade de, a cada dia, se aperfeiçoarem e progredirem como profissionais e como seres humanos.
Concomitante e para agravar esta realidade profissional existe, ainda, a presença do Estado Incompetente, que no passado, como presente, não investiu e não investe, o suficiente para universalizar o ensino médico no Brasil, pela criação de Centros de Excelência Regionais, como polos de formação de profissionais possibilitando que, os médicos ali formados, se estabeleçam em cidades do entorno de forma a atenderem as necessidades locais e continuarem próximos da tecnológica, do conhecimento e das atualizações exigidas.
É necessário que surja, de algum lugar, alguém que pense o País e conduza a classe médica do Brasil, pelo diálogo, pelo contato com o poder político a encontrar uma solução para estas questões.
É claro que vai demorar, pois não existe ninguém pensando o País em termos de futuro e os valores financeiros para criar uma infraestrutura revolucionária na saúde, estão comprometidos com pagamento de despesas da classe política que vive hoje com mais luxo, com mais privilégios, com mais pompa e com mais abastança que a família Real que chegou aqui em 1808 e fundou a primeira Escola de Medicina.
Acho, finalmente, que o pedido de socorro para médicos estrangeiros assumirem o papel que deveria ser dos brasileiros é o reconhecimento de nossa incompetência histórica na gestão brasileira da saúde. É, também e, pelo menos, a atitude oficial de assumir nossa incapacidade de previsão e de solução de nossos problemas.
Então que venham os médicos cubanos, portugueses, franceses, e de todas as outras nacionalidades que sensibilizarem-se pela situação caótica de nossa saúde que abre os braços em gesto de socorro, perante o mundo.
Que estes médicos atendam as necessidades de nossos pobres pacientes de todo o território nacional. Que sua presença sirva de lenitivo para as dores de nosso povo e de Vergonha para Classe Política brasileira que no presente, como há séculos, se locupleta se beneficia e rouba do erário publico e que além disto constrói estádios bilionários para sediar uma copa de futebol deixando de construir e aparelhar, cientifica e tecnologicamente, hospitais que solucionem nossos problemas de saúde.
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