Erner Machado
04/06/2016 | Quando morrem as lendas... (Ao meu amigo e irmão Harri Izaguirry)
Hoje, na hora do café, recebi a notícia de que Cassius Marcelus Klay jr., ou Muhammad Ali-Haj, havia morrido... foram inevitáveis algumas lágrimas, pela vida que deixou de existir e pelo ídolo que encantou gerações com a sua arte, com a sua inteligência, com o seu bom humor e com a sua capacidade de lutar pelas coisas em que acreditava.
Foi campeão Olímpico, em 1960 aos dezoito anos. Em 1964 foi campeão mundial ao derrotar Sony Liston.Em 1967 recusa-se a lutar na Guerra do Vietnã sob a alegação de que nada tinha contra os Vietnamitas que nunca o haviam chamado de Negro Imundo. Como vingança o Governo Americano cassou-lhe o título e o proibiu de lutar por três anos.
Absolvido, recuperou o seu título e o perdeu para Joe Frazer. Em 1974, no combate que ficou conhecido como a Luta do Século, em Kinshasa no Quênia, tornou-se novamente Campeão, batendo de maneira singular ao grande George Foreman.
Assisti esta luta, tomando uma cerveja, longe de meus amigos e de meus familiares, em um bar da Rua da Praia. Naquele tempo podia-se andar sozinho pelas ruas de Porto Alegre... Perdeu, em 1978, o seu título para Leon Spinks e logo depois recuperou-o do mesmo Leon.
Retirou-se do Boxe na condição de Campeão. No Quênia, eram dois Homens solitários na frente de uma multidão e do mundo que se dividia entre Foreman que, supostamente, representava o Império Americano e entre Cassius que representava os Negros Libertos.
E, naquela África que produziu, tantos escravos aquela noite produziu um Rei Negro, cujo título foi legitimado pela qualidade de singular grandeza de seu adversário que, corajoso e forte exigiu do Rei que surgia, toda a grandeza, habilidade e obstinação.
O Boxe nunca mais foi mesmo depois desta luta do Quênia. Passaram-se os anos e Ali doente, mas digno, era ovacionado por onde passava e Foreman aos cinquenta anos, com a vitalidade, de um jovem voltou aos ringues para encantar o mundo com a sua arte e com a sua força. Cassius ou Muhammad foi eleito como Desportista do Século e ao deixar o mundo, o deixa com a dignidade dos vencedores e como um vencedor deixa, sempre uma lição. A dele é a de que por mais que sejamos vencedores o tempo, sempre nos coloca na lona. Resta-nos cair com a dignidade do Muhammad ou do Cassius Marcelus Klay jr.
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