Erner Machado
04/03/2019 | Um sonho...
Neste sábado à noite, como última atividade, desliguei a Televisão em cuja tela passava o fascinante espetáculo de desfile de uma Escola de Samba do Rio de Janeiro.
Adormeci, logo em seguida e me encontrei, sonhando.
No meu sonho, estava em Rosário do Sul em plena Rua Amaro Souto,no primeiro dia deste carnaval de 2019.
Os dois lados da rua em frente à Praça Borges de Medeiros e à Prefeitura Municipal continham duas centenas de expectadores que assistiam, fascinados , a passagem da Escola de Samba Imperadores do Ritmo que com seus duzentos figurantes e tendo à frente a Bateria.
Na Bateria reconheci o nêgo Enio, tocando tamborim, o Luiz Brilhante, tocando um Saxofone, os irmãos Amaral dando o ritmo no Réco-Réco e na quica, o Iedo Jaques como Mestre de Harmonia e de Porta bandeira a Eterna Bete Moura...atrás dela o popular Patesco travestido de baiana, dava um ar de alegria ao espetáculo... que desde que iniciou, uma quadra antes, perto do Banrisul, arrancava aplausos e produzia delírios na plateia que, tomando Samba, Cerveja ou Cachaça, aplaudia e dançava junto com a escola.
Que sonho! E que lembranças me trouxe de minha infância e de minha juventude!
A Escola passava, harmônica, melodiosa, brilhante...
Vi, de repente, que lá do lado Patronato, onde estudei quando criança, vinha uma estranha luz que iluminava a Amaro Souto e que se projetava, pela área do desfile, até aos trilhos da Viação Férrea, quatro quadras após.
Na rua já não eram duas centenas de pessoas, mas a cidade toda que, em silencio e envolvida por uma bruma que contrastava com luminosidade da rua, apreciava estarrecida o singular desfile que substituiu a Imperadores do Ritmo.
A música, agora, não era mais o samba enredo da Imperadores, mas um som de estranha musicalidade que transmitia uma grande paz a todos que o ouviam, estáticos e silenciosos.
Envolvidos por aquela singular luminosidade apareceram os primeiros participantes do cortejo, que se movimentavam deslizando a alguns centímetros acima do chão... Estavam vestidos de estranhas roupas que cintilavam quando seus movimentos ritmados se confundiam com as luzes nas quais, estavam evolvidos.
Na frente, dos mais de duzentos participantes, estava um personagem, feminino, que trajava o que teria sido uma calça “jeans” fazendo conjunto com uma blusa branca com tons de escuro. Na mão tinha um porta estandarte onde estava escrito Bloco da Boate Kiss, Santa Maria...
Logo depois, um grande aglomerado de seres de cujos rostos se desprendiam fios de lama marrom, traziam uma grande faixa com a inscrição Unidos de Mariana e Brumadinho, roubou a atenção dos espectadores, que permaneciam em pesado silencio, começavam, agora, a emitir um pranto que se confundia com a música clássica que continuava tocando.
Um terceiro grupo se aproximou com uma placa, meio chamuscada, onde constava, em letras vermelhas e pretas, o desenho de uma bola futebol.
Todos tinham, nos rostos, uma expressão triste e angustiada. Embora não tivesse inscrição de identificação todos os expetadores sabiam que era o Bloco do Container do Flamengo que desfila a sua dor, sua surpresa e sua incompreensão.
A luz continuava na rua, momentaneamente vazia, até que surgindo de um canta da Praça Borges de Medeiros, uma grande multidão de seres, igualmente silenciosos e flutuando sobre as pedras da rua, traziam diversos Portas Estandartes que os identificavam como sendo Os da Fila do INSS, os Sessenta Mil Assassinados em 2108, os Vítimas dos desvios da Petrobrás, do BNDES, dos correios, os Sem Educação de Primeiro Grau...Os setecentos mil presos do sistema em que só cabem duzentos e cinquenta mil, os Moradores de Rua, os Desempregados, os Párias das Solidões...
Passaram pela área do desfile e se confundiram com os seres do Bloco da Kiss e Unidos de Mariana e Brumadinho, Container do Flamengo que, nesta altura, já estavam na dispersão, quase perto da viação férrea...
Um grande silencio tomou conta da rua e podia-se ouvir os soluços da cidade que assistiu ao singular momento.
Diante do aparente fim do triste espetáculo, milhares de pessoas se movimentavam, silenciosamente, para deixar a praça quando de repente a música tornou-se mais alta fazendo com que as pessoas retornassem e seus olhos se voltassem para a rua, onde, passavam agora poucos seres, vestidos em andrajos e com olhares fixos...
Passaram em primeiro lugar, Celso Daniel e PC Farias, depois Eduardo Campos, Teori Zavascki e encerrando o extraordinário desfile Ricardo Boechat, passou com um microfone na mão.
A música clássica parou quando Zé Kéti, apareceu encerrando desfile e no microfone do Boechat, cantou a sua eterna Bandeira Branca...
Acordei-me, após 15 minutos de ter começado o meu sonho.
Não consegui mais dormir e presenciei, o arrastar das horas, até ao amanhecer quando, em silêncio, tomei o primeiro chimarrão que é meu companheiro das madrugadas
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