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Domício Brasiliense

            O tempo vai passando, os sonhos não acontecem, a realização é escassa, o amor escapa, a felicidade é passageira. Nesse pacote de sentimentos a frustração tem morada, podendo aflorar o pior em nós.

            O homem é luz e sombra, o que quer dizer que, assim como possui atributos também tem defeitos. Cada um de nós é um pacote dessas coisas, sendo que algumas dizem respeito ao que trazemos conosco através do temperamento e outras tantas estão relacionadas à nossa trajetória nesta vida, desde que nascemos até o momento atual, a que chamamos de personalidade. Desta forma, temos características que não conseguimos relacionar às pessoas que nos criaram, ao meio em que crescemos e nem aos eventos da vida; e outras tantas, que conseguimos identificar e associar.

            Viver na sociedade contemporânea é viver no anonimato, porque é muito difícil o homem ser reconhecido pelos seus atributos ou pelo o que consegue realizar na sua vida. Por isto, a família e os amigos são tão importantes: eles nos reconhecem. Contudo, se o temperamento é um tanto complexo, a personalidade encontra-se doente e o homem se sente desprovido de bons referenciais de família e de amigos, ele está propenso a adoecer. Este estado pode suscitar tanto a depressão e outros transtornos mentais, como também a violência.

            A violência é um mal que se propaga, tanto dentro do homem como no grupo, mascarando um estado doentio através da falsa proposta de desabafo. Mais ainda: na violência coletiva o indivíduo estressado, solitário e fracassado passa a Ser Manifesto, tendo vida e sendo reconhecido. Por isto, no grupo o ser doente se esconde, mas também se associa num processo de identificação que, aparentemente, supre a frustração.

            Precisamos nos associar com os nossos pares para que consigamos nos perceber, mas se tudo o que vemos a nossa volta é vazio e doente, parece um tanto complicado conseguir ser uma pessoa saudável. Desta forma, somos resultado das peculiaridades que trazemos conosco, dos eventos marcantes em nossas vidas e, em grande parte, do meio a que pertencemos. Por isto, não podemos olhar para a violência sem a relacionarmos aos eventos da vida de cada um e a uma sociedade que também tem sua cumplicidade em muitas questões.

            Em cada um de nós há um ser violento latente porque é nossa característica o impulso à autodefesa, a que chamamos de propulsão à vida. Viver da melhor forma possível é fazer com que sejamos vistos, tendo como possibilidade a realização, o reconhecimento e a felicidade: o amor. Ele é tudo o que desejamos, mas, na falta dele todo o seu oposto pode encontrar morada.