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Domício Brasiliense

            Parece que precisamos evitar certas coisas da vida, como se não desejássemos ter consciência da sua existência. Ao ignorá-las elas não somente deixam de existir, como também não representam riscos às nossas zonas de conforto. Então, fingir não perceber um problema faz com que, de certa forma ele não exista, nos mantendo naquilo que edificamos como a nossa realidade de vida.

            Ao ignorar uma dor, algo desagradável ou uma carência, anunciamos o nosso saudável instinto de proteção. Em contrapartida, parece haver um preço para cada decisão que tomamos em nossas vidas, seja ele representativo de algum lucro ou relativa perda. Este é o nosso medo: perder. Nas negociações que realizamos diariamente nos focamos em ganhar e manter, abastecendo o nosso corpo psicoemocional de saciedade afetiva e suprindo de combustível realizador para tudo o que entendemos que precisa ser mantido.

            Ser ingênuo é ignorar, portanto manter a realidade que acreditamos precisar proteger. É o que fazemos em relação ao nosso mundo circundante, assim como nas coisas que parecem não estar tão próximas a nossa realidade diária. Criamos um quadro de evitação, colocando-nos alheios a tudo o que possa poluir o micromundo que acreditamos precisar proteger para que tenhamos uma atitude mantenedora em relação à felicidade.

            Contudo, para tudo há um limite e assim o é para a saúde e a doença. Adoecemos por ignorar o que precisamos enfrentar em nós mesmos e no mundo a nossa volta, por mais que possa ser um processo doloroso. Precisamos compreender que a felicidade é um processo a ser conquistado e elaborado, o qual está diretamente relacionado ao nível de consciência que atingimos em relação a nós mesmos e o mundo a que pertencemos.

            Por isto, uma atitude sábia em direção ao autoconhecimento sempre trará algum crédito para a nossa existência, tirando-nos da ingenuidade em que nos encontrávamos aprisionados.