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Mafalda Orlandini

Faz uns dois anos, fiquei com umas limitações pela idade. Meus filhos e netos arrumaram umas acompanhantes para me ajudar. Uma delas me chama a atenção pela mania de varrer o apartamento. Outro dia, disse que ela parece uma bruxa boa. Sempre está montada na vassoura. Isso me fez lembrar o maior mico que paguei na minha vida.

Foi na década de setenta. Trabalhava em um dos melhores estabelecimentos de ensino de Porto Alegre. Ficara viúva, tinha uns quarenta anos e me sentia um pouco deslocada entre as colegas todas mais jovens. Foi marcada uma galinhada no Morro da Apamecor. Minhas colegas combinaram de fazer um concurso de fantasias. Insistiram para eu participar. Disse que não tinha fantasia, mas iria pensar.

Chegando em casa, refleti que seria bom participar e provar que eu não era tão “coroa” assim. Procurei um longuinho preto, uma cartolina também preta e fui ao trabalho. Às dezenove horas, vesti-me, peguei a vassoura mais nova, meu carro, coragem e rumo ao Morro.

Foi então que entrei no recinto com a minha vassoura na mão. Ainda bem que não estava montada nela. O silêncio foi impactante. Ninguém fantasiado. Naqueles segundos mais longos da minha vida, pedi para aparecer uma fada madrinha para me pulverizar. Só então as colegas vieram ao meu encontro explicar que haviam resolvido trazer a fantasia na bolsa e estudar o ambiente primeiro. Sentiram-se na obrigação de se fantasiar depois do jantar e organizar um concurso. Foi o único concurso de fantasias de que participei e consegui um segundo lugar.

Só descobri o meu apelido, quando uma aluna me perguntou por que alguns colegas me chamavam de Bruxinha se eu parecia tão boa. Disso tudo, eu aprendi uma lição: O combinado, quando não está assinado em baixo, pode ser mudado. As palavras o vento leva.