Mafalda Orlandini
20/01/2014 | Imbé, quarenta e cinco anos de lembranças.
Nas primeiras décadas do século passado, foi sendo consolidado o hábito de veranear no litoral gaúcho. Já havia passado a fase heroica de viajar de carreta puxada a bois e tomar banho de mar para tratamento de saúde por recomendação médica. Para ir a Tramandaí, foi construída uma estrada considerada boa, embora muito cheia de curvas. Muita gente se empolgou e resolveu correr mais que o necessário. Acidentes começaram a acontecer e eram muito lamentados. Para controlar a velocidade, que, se não me engano, era de 50 ou 60, foi improvisado um sistema muito engraçado. Foram construídos três postos. Ali ficavam policiais rodoviários que davam um cartão a cada motorista com a hora em que poderiam chegar ao outro posto. Os apressadinhos criaram o costume de parar no caminho, fazer tempo e comer os famosos Sonhos de Santo Antônio. Uma delícia que ficou famosa na época. As crianças já perguntavam no início da viagem se iríamos fazer a paradinha.
O Ricardo e o Oscar em frente a casa no Imbé (1961).
Meu marido era apaixonado pelo mar e não sossegou enquanto não foi a Tramandaí falar com o Paulo Hofmeister, que era seu amigo pessoal, e trocar um terreno no Imbé por uma casa. O Paulo estava iniciando a Zeladora Balneária que se tornou muito importante na região e já conhecia bem o mercado imobiliário. Ele escolheu uma casa, pagou a diferença e o sonho se tornou realidade. No próximo fim de semana, lá fomos nós conhecer a “nossa” casa da praia. Nem imaginava que ali eu iria passar quarenta e cinco anos veraneando ora com o marido e os filhos, ora com as noras e os netos.
Ricardo e seu "possante" nos fundos da casa em Imbé.
O acesso ao litoral era mais fácil, mas não havia supermercado, só pequenos mercadinhos onde tudo era o dobro do preço. Então éramos obrigados a levar um rancho bem planejado. Tínhamos também uma espécie de geladeira e comprávamos barras de gelo para manter os alimentos gelados. Íamos parando na estrada e fazendo compras: ovos, butiás para colocar na cachaça, milho verde, carvão, galinhas (vivas), e tudo o mais que coubesse no carro.
Beira da praia movimentada.
Nos primeiros tempos, eu não tinha empregada e tinha que fazer todo o serviço da casa e depois aproveitar a praia com as crianças. Meu marido, antes de comprar as galinhas, me perguntara se eu sabia matá-las. Não tive dúvidas, pois sempre via minha mãe fazendo. Ela dava um puxãozinho no pescoço, ela morria, e estava pronta para ser escaldada e depenada pelas empregadas. Quando falo nisso, volto a sentir o cheiro forte das penas escaldadas. Foi o que tentei fazer e a galinha continuava cacarejando na minha cara. Depois de muito tentar, quase chorar, resolvi cometer meu primeiro assassinato. Peguei um facão, um martelo e degolei a coitada. Foi sangue para todo lado. Ainda bem que meu marido saiu com as crianças para elas não verem o espetáculo ridículo e a “crueldade” da mamãe. No entanto não terminou aí. Faltava tirar as tripas, os miúdos e separar as partes nobres das demais. Foi um combate corpo a corpo. Essa é a lembrança mais traumática e hilária do meu primeiro verão no Imbé. Aprendi que ver fazer não é saber, é a famosa “falta qualificação”.
Ana Virgìnia, Ricardo, Susana, Ênio, Oscar e Curuca.
Vários amigos de Porto Alegre já tinham feito ou comprado casa no Imbé e os meus dois filhos, depois meus netos, tiveram logo inúmeros companheiros para atividades e brincadeiras que foram acontecendo durante 45 deliciosos anos. O verão de cada ano sempre era aguardado com ansiedade e usufruído durante intensos dois meses e meio.
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