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Mafalda Orlandini
14/10/2013 | Os Churrasquinhos do Lourenço
Nos últimos anos de vida dos meus pais, eu os assessorava nas necessidades diárias. Ia com a empregada fazer o rancho, pagava as contas deles e os acompanhava no lazer. Papai ainda tinha o controle do seu dinheirinho, mas eu o ajudava a manter os pagamentos em dia. O meu irmão Lourenço cuidava dos problemas de saúde deles que não eram graves, apesar da idade.
Alzira e José Guido Orlandini
com os filhos Leda, Lourenço e Mafalda.
O meu domingo era sagrado e eu me encarregava de levá-los a passear. Gostavam de ir almoçar em restaurantes. Mamãe escolhia o local. Adorava camarão com catupiry do Bolonha, galetos com macarrão ou polenta no Mama Mia, churrascos em várias churrascarias. Ela sempre escolhia o que estava com vontade e eu os acompanhava.
Entretanto, o que ela esperava com mais ansiedade eram os convites do Lourenço, seu filho amado e sempre carinhoso e atencioso com ela. Ele já telefonava aos sábados para ela se produzir para o “evento”, uma espécie de preparativos para uma festa. Em seguida, telefonava para mim e dizia feliz: “Neste domingo temos churrasquinho”. Quando eu chegava, às dez horas de domingo, os “trajes” dela e do papai estavam separados em cima da cama. Ela era muito vaidosa e fazia questão que os dois fossem impecáveis. Fazia questão de usar meia calça porque dizia que queria esconder as varizes e mostrar umas pernas mais bonitas. Não conseguia enfiar a meia calça e me esperava para ajudá-la. Papai gostava de ir de bermuda no verão. No Lourenço, ela até deixava, mas nos restaurantes não deixava porque as pernas dele eram muito finas para ficar mostrando. Eu precisava também arrumar com capricho o cabelo dela e passar spray de laquê. Já estava com pouco cabelo e eu tinha que caprichar.
Alzira e José Guido Orlandini.
Muitas vezes, havia convidados, mas as maiores atenções eram para ela; a carne que ela mais gostava, o ponto de cozimento, o pedacinho especial. Ela ficava realizada e voltava para casa comentando cada gesto do filho querido. Ficava radiante se ele reservasse um pedaço especial para levar para casa.
Os churrasquinhos do Lourenço continuaram até quando ele já estava doente, mas meus pais já tinham partido e ele, sua família e alguns amigos de sempre, nos continuamos encontrando. Então eu já tinha o compromisso de levar uma ambrosia e um abacaxi que eu descascava artisticamente em espiral.
Família reunida em um dos churrasquinhos na casa do Lourenço.
Hoje que já tenho oitenta e três anos, avalio como deve ter sido importante para meus pais esses encontros e o carinho dos familiares. Agradeço a Deus ter podido ver meus pais envelhecerem cercados de uma respeitosa atenção dos familiares. Há pessoas que não têm a sorte de vê-los envelhecer, entender que eles querem tão pouco, que querem apenas amor e carinho. O que parece tão sem importância para nós hoje faz a suprema felicidade das pessoas idosas.
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