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Mafalda Orlandini
23/09/2013 | Os Imigrantes Japoneses
A alimentação gaúcha era, até então, bem característica da imigração alemã e italiana: churrasco, polenta, massas, fiambres, cerveja... Sabe-se que a vinda de imigrantes japoneses para o sul, entre 1956 e1967, enriqueceu-a com costumes hortifrutigranjeiros. Nessa época, pós II Grande Guerra Mundial, muitas famílias de japoneses imigraram para o Brasil devido a dificuldades de sobrevivência em seu próprio país. Apoiados pelo governo do Japão e do Brasil, eles vieram trabalhar como parceiros ou meeiros agrícolas. Meu pai se dispôs a receber algumas famílias na granja de Belém Novo.
Mandou construir umas cinco ou seis casinhas brancas com janelas verdes: uma ao lado da outra para as famílias formarem uma comunidade. Lembro muito bem quando chegou o ônibus com eles. Cansados, de uma longa viagem, foram aliviar-se em qualquer cantinho. Nós e os outros moradores, curiosos, incrédulos, ficamos observando os recém-chegados. Ninguém falava Português, é obvio. O líder falava inglês e meu cunhado (Schifino) servia de intérprete meio precário.
Acomodaram-se e, no dia seguinte, meu pai quis saber se eles haviam aprovado as moradias. O líder disse que sim, mas que estavam cobrindo o assoalho com terra porque eram acostumados com chão batido. Soubemos, então, que vieram de uma região muito pobre do Japão. Alguns de seus hábitos eram bem diferentes dos nossos. A começar pelos filhos pequenos que deixavam em casa, em caixotes, aos cuidados dos maiores e iam trabalhar na plantação. A alimentação era fornecida pela granja e entregue ao Sr Hashico que a distribuía: sacas de feijão e de arroz, enormes peixes salgados e muito pouca coisa extra. Eles próprios produziam a alimentação complementar.
Presente recebido da família Hashico há mais ou menos cinquenta anos.
Está incompleto: faltam peças.
Começaram logo a produzir e meu cunhado ia com eles vender os produtos na CEASA. Plantavam e colhiam hortaliças que nem sempre o nosso mercado aceitava. Uma vez, colheram pimentões amarelos, esses que hoje são comuns nos supermercados. Não conseguiram vender porque não era um produto conhecido e trouxeram tudo de volta para jogar e adubar a horta. Aliás, também costumavam fazer isso sempre que o produto não compensava o gasto da gasolina e a perda de tempo. Assim fizeram com muitos outros legumes tais como alfaces, repolhos, tomates, etc..
Um fato inesquecível foi a morte de uma japonesinha. Tinha oito ou dez anos e desapareceu. Procuraram-na durante uma noite inteira e aventaram-se muitas hipóteses. No dia seguinte, encontraram os chinelinhos dela junto a um açude. Pouco depois, com tristeza, era resgatado o seu corpinho.
Os japoneses levavam uma vida muito simples. Gastavam o mínimo para sobreviver. Aos poucos, foram juntando o necessário para se estabelecerem por conta própria. Compravam pequenas propriedades ou abriam seu comércio; lavanderias, floriculturas, restaurantes e iam tratar de seus negócios. Iam embora. Fechava-se o ciclo nipônico na granja do Beco do Cego.
Durante muitos anos, cheguei a pensar que essa experiência tinha sido um fracasso para meu pai. Agora, ao procurar dados na internet, verifiquei que era esse o desejo dos japoneses. Aqueles imigrantes vieram para o Rio Grande do Sul com a intenção de juntar dinheiro e estabelecer-se em negócios próprios. Conseguiram o seu objetivo, espalharam-se pelo estado de forma independente. Apenas um certo número mais coeso estabeleceu-se em Ivoti, a Cidade das Flores, mantendo até hoje os costumes e as tradições da pátria distante.
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