Mafalda Orlandini
25/03/2013 | Uma Frasezinha de Ouro
Em 1943, eu mudara de escola. Cursara o antigo primário, naquele tempo, por oito anos, fizera exame de admissão para o ginásio e passara para o Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho Não é que eu sofresse o que hoje se chama “bullying”, mas eu me sentia como um peixe fora d’água. Havia muita mudança: colegas, professores, regras. Eu era tímida e ninguém ligava para mim.
Um dia, a professora de Português mandou fazer uma redação. O tema era qualquer coisa sobre as férias. Resolvi contar nossa viagem para a praia de Capão da Canoa. Naquele tempo, era muito diferente de agora. A viagem durava quase um dia e tínhamos que esperar em Tramandaí que nos ajudassem a passar nas famosas esteiras. Minha mãe preparava galinha com farofa, sanduíches, rapaduras, doces, levava guaraná, tudo para alimentar os quatro filhos famintos, enquanto esperavam a hora de seguir viagem.
Chegou a hora da aula para comentar as redações com as alunas (não havia alunos). Faz setenta anos, no entanto eu me lembro como se fosse hoje. A professora começou a ler as redações e disse que precisava destacar uma excelente. Comentou que a aluna descrevera com perfeição uma viagem para a praia. Parece que estamos mesmo viajando, vendo as palmeiras agitadas pelo vento, os morros cobertos por vegetação. Tem até uma frasezinha de ouro bem no início: “Os olhos, acostumados a dormir mais, teimam em fechar-se”. É uma figura lindíssima, tem vida O único senão do texto, que não é erro de Português, é um errinho geográfico: a aluna cita a Serra do Mar que é ,na realidade, a Serra Geral. Também nunca esqueci a aula extra de Geografia.
Fachada atual do Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho
Essa aula, por incrível que pareça, decidiu minha vida e minha profissão. Depois do elogio da professora Carmem de Souza Santos, (aqui fica minha homenagem ao seu trabalho de dedicada mestra durante anos no Colégio Bom Conselho) passei a ser notada e respeitada pelas colegas. E mais ainda: Despertou minha profissão, professora de Português e apaixonada corretora de redações. Algumas colegas perguntavam por que eu gostava de trabalhar como corretora, quando elas detestavam. Eis a resposta.
Parte interna da Biblioteca Profª. Carmen de Souza Santos no Colégio Bom Conselho
Sempre procuro deixar uma mensagem nos meus textos. Essa é para dizer a todos os professores como eles são importantes, que nunca devem esquecer que as suas palavras, em uma sala de aula ou fora dela, são muito valiosas, são mágicas, podem decidir a vida de alguém, para o bem ou para o mal, até sua profissão.
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