Mafalda Orlandini
03/06/2013 | Repaginando
Quando o local que mais amamos, que é nosso lar, fica abandonado por algum motivo, às vezes, grave, nada melhor que ”repaginar”. Quando eu estava mal, costumava dizer que já havia comprado a passagem para o andar de cima, tão desanimada eu me sentia. Nada era prazeroso.
Por um tempo, fiquei completamente dependente das pessoas. Como não tinham CNH para dirigir cadeira de rodas, sempre batiam nas paredes que ficaram muito marcadas. A geladeira e a máquina de lavar louça entregaram os pontos. Também tinham treze anos de serviços prestados. Os estofados ficaram sujos, manchados. Quebraram-se 50 copos e muitos pratos. O fogão sofreu um tsunami, coitado. O junkers parou de funcionar e não eram só as pilhas. Estava precisando de uma limpeza geral. A torradeira cansou de trabalhar e partiu-se. Os armários ficaram desorganizados, porque eram muitas mãos estranhas mexendo neles. Quando eu pedia uma roupa que me servisse (havia emagrecido vinte quilos), era vasculhado e investigado cada cantinho com impaciência... Quando comecei a treinar para andar, foram retirados os tapetes para evitar quedas. Eu não conhecia mais minha casa.
O pior é que me mantinha lúcida, vendo aquele caos, não podendo consertar ou falar. Para quem há anos morava sozinha, tinha tudo arrumado e conservado a seu modo, era um sofrimento. Mas um dia, eu tive uma conversa séria comigo mesma. O meu outro EU disse para mim que eram coisas materiais, sem importância ou de grande valor, que eu pensasse só em recuperar a saúde e me fortalecer, que encarasse o momento com resignação e bom humor. E tinha a presteza da “equipe das sete mulheres” cuidando de mim. Calma, reza e espera.
Desde então fechei os olhos para tudo. As confusões passaram a ser piadas. Ninguém mais me ouviu pedir para não bater a cadeira nas paredes, fechar as cortinas para não desbotar os estofados novos, alisar bem os lençóis e a colcha, dobrar direito a roupa, dependurar e separar os vestidos e as blusas conforme eu costumava etc... etc... Passei a cuidar do que era mais importante no momento, a minha saúde. Bastou encarar tudo de maneira mais sensata e apressei a minha convalescença.
Faz quarenta e cinco dias, pude, enfim, começar a agir. Para ter uma temperatura sempre amena, em primeiro lugar, coloquei splits. “Contratei” (hehehe) a minha nora, Kathia Sussella, que é decoradora e fizemos encomendas: tapetes e sofá novos. Mandei pintar as paredes. Ganhei uma geladeira, encomendei um balcão novo para a cozinha e comprei um fogão. Segunda-feira, foi o dia D. E Kathia, sempre ela, trouxe acessórios modernos de decoração. Então tivemos o prazer de “repaginar”. O meu ninho ficou lindo, acolhedor, sem sombra dos maus momentos por que passei. É preciso saber esperar, enfrentar as dificuldades com paciência porque as tempestades sempre têm seu tempo de duração. E hoje, mais de bem com a vida, usufruo o prazer de ficar em casa é ter o gosto de tudo recuperado e ainda mais bonito. Posso receber as visitas e o carinho daqueles que amo com orgulho e ouvir “como tua casa está bonita”.
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