Mafalda Orlandini
27/07/2015 | Chove chuva sem parar.
Se a chuva fosse uma mulher, diria que ela é extremamente temperamental. Chove, quando quer e onde quer. Quase sempre é bem-comportada, bendita, doce, equilibrada e desejada, principalmente, pelos agricultores. É furiosa, zangada, traz tempestades, ventos, raios e trovões, seus indesejados acompanhantes. É insensível às rezas dos nordestinos e passa longos tempos sem dar uma gota de água para o sertão ressequido e sedento.
Tenho acompanhado com apreensão a chuva que não para mais aqui e em regiões do estado. Eu moro na Tristeza, na parte mais alta da Doutor Barcelos. Da minha varanda, tenho uma bela vista do bairro. Lá embaixo, a mais ou menos quatro quadras, corre o Guaíba. Fico admirando, quando deslizam por ele navios, barcos e barquinhos à vela do Clube Jangadeiros. Nos dias de neblina, ouço o apito de alerta dos navios. Lá no horizonte, as construções da cidade de Guaíba completam o cenário que eu amo curtir.
A famosa enchente de abril de 1941 na região central de Porto Alegre.
Mas voltemos à chuva. Hoje, enquanto tomava o café da manhã com a Mara, que é de General Câmara, ela apontou para o rio e perguntou se a enchente não poderia chegar até aqui. Eu adoro, quando me fazem perguntas e eu posso discorrer sobre o que perguntaram. Eu tinha onze anos e vivi a maior enchente de Porto Alegre. Nós morávamos a três ou quatro quadras da Avenida Farrapos e a água avançou até muito perto. Acompanhávamos com apreensão, porque a enchente começou igualzinho a de agora, nos mesmos rios que vão desaguar no Guaíba. Entre a Usina do Gasômetro e a Ilha da Pintada fica o escoadouro dos rios Gravataí, Jacuí, Sinos e Caí. Inclusive, o Rio Taquari, naquela ocasião, também inundou Roca Sales e foi até o andar térreo do prédio em que minha avó morava no centro da cidade. Outra lembrança que guardo é dos amigos flagelados que abrigamos em nossa casa. Por isso, não esqueço aquela que foi a maior enchente do Rio Grande do Sul.
Expliquei à Mara que o Guaíba não veio e não deverá chegar aqui. Falei que também dependíamos do comportamento do vento Sul. Comecei a contar a conturbada construção do Muro da Mauá. Daí me perdi, pois são sabia dizer o que haviam decidido com o Muro. Eu li, há uns dias, talvez, que está próximo o início da Revitalização do Cais Mauá. E o muro? Tenho que saber.
Enchentes assolam a Grande Porto Alegre e interior gaúcho.
Fui-me dedicar a minha distração diária e sagrada: ler os jornais do dia. Surpresa: ZH adivinhou o que eu queria saber para completar a minha tarefa de historiadora: uma matéria completa sobre o assunto. Havia até um mapa ilustrativo do discutido muro. Poderia terminar com chave de ouro minha aula de testemunha ocular de uma revolta ambiental de 74 anos atrás. À noite, ao ver TV, pude comparar o que vimos naquele tempo, com o que a TV mostra hoje. As informações resumiam-se às notícias do rádio e a fotos em branco e preto nos jornais. Hoje a TV mostra ao vivo quantos estragos as águas estão fazendo e o desespero das pessoas. Não há como não sofrer junto.
Na realidade, o meu objetivo era saber a quantas anda o Muro da Mauá. Não foi e não será destruído. Mas está em precária conservação. Está com o concreto deteriorado, com corrosão e exposição de rachaduras e fissuras. Quanto às comportas, foram renovadas em 2011. Na inauguração, houve o acionamento hidráulico de uma delas que só funcionou na oitava tentativa. O prefeito José Fortunati comentou: “- Isso acontece, mas serve de alerta para não descuidarmos da manutenção”.
Muro do Cais Mauá.
Para fechamento do meu texto, um comentário final sobre o assunto de hoje. Porto Alegre corre o risco anual de 0,05 por cento de ocorrer uma enchente como a de 1941, apenas uma vez em cada 2.000 anos. “Se acontecer, o Muro da Mauá, rejeitado por muitos, poderia não conter a inundação” (ZH-20/07/2015). Em resumo, significa que devemos ficar alertas, mas, relativamente, tranquilos. Será?
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