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Mafalda Orlandini
27/06/2016 | Recatada e do Lar
Minha família era de classe média alta. Eu e meus três irmãos nascemos no século passado. Como era óbvio, fomos educados em escolas particulares, completamos o “Ginásio”, recebemos os ”Diplomas”(?) em solenidades badaladas e tivemos o “Baile de Formatura” (coloquei entre aspas porque, naquela época, era o máximo completar o ginásio). Distribuímos os convites para os eventos, proporcionando grande orgulho e alegria aos pais.
Meus irmãos continuaram os estudos. O mais velho foi estudar Contabilidade para trabalhar na empresa de papai. O Lourenço tornou-se Médico Pediatra muitos anos depois. Mas, para as filhas mulheres, o estudo tradicional terminava ali, era hora de se preparar para ser uma boa e prendada esposa. Assim, fomos autorizadas a buscar todos os cursos de aperfeiçoamento que fossem necessários. Eu queria cursar Jornalismo e até busquei uma vaga na PUC. Não havia vestibular e o Curso Superior era em seguida. Não consegui convencer meus pais. O jeito era cursar balé, piano, gaita e aprender a costurar, cozinhar, bordar. Com algumas aulas de etiqueta, ficamos sob medida: educadas, recatadas e do lar. Eu tive meus namoradinhos sob os olhos vigilantes de mamãe, mas a minha irmã casou com o primeiro namorado com quem teve seis filhos e formou uma linda família.
Antiga máquina de costura Singer, meu presente de noivado.
Política e futebol não eram para mulheres e ficamos muito surpresas, quando papai chegou em casa a mandou eu e minha mãe providenciarmos nossos títulos de eleitor. Explicou: era para votar em Fernando Ferrari, candidato a Deputado Federal. Ele era irmão da comadre, madrinha do Lourenço. Apesar de ser induzida, desse meu primeiro voto, eu nunca me arrependi. Acompanhei a trajetória política do Deputado Ferrari até sua morte prematura, um homem idealista, que lutou pela população rural e projetos sociais. Eleito em 1950, foi reeleito em 1954 e 1958.
O Deputado Fernando Ferrari em meio a seus eleitores, o "Político das Mãos Limpas".
Desde que me casei, em 1951, sempre me mantive “recatada e do lar”, votando em quem o marido indicava. Só tinha olhos para criar meus filhos e ser a esposa que tinham-me ensinado a ser. De repente, em 1961, resolvi falar ao meu marido que me sentia frustrada em não ter estudado mais. Para minha surpresa, ele ficou feliz, me deu o maior apoio. Impôs uma condição: deveria ser Magistério para lecionar em uma escola em que ele trabalhasse: Colégio Rosário, SENAC ou Irmão Pedro. O sonho dele era passarmos mais tempo juntos no horário de trabalho. Foi questão de dias e eu já era uma Normalista trintona do Colégio Bom Conselho.
Foto com minhas colegas com uniforme de Normalista,
a sexta da esquerda para a direita.
Daí em diante, ninguém me segurou mais. Terminado o Curso de Professora, fiz vestibular para Letras. O meu estudo tardio me despertou para outro tipo de vida e foi uma benção porque meus estudos e meu trabalho chegaram em boa hora para aliviar uma viuvez prematura. Só que meu marido não teve o prazer de festejar minha Colação de Grau em Letras, em 1969.
Foto de Formatura (1969).
Hoje, aposentada, sou uma leitora apaixonada de tudo que acontece no mundo. Vou do social à política, à economia, à educação, tudo. Como tenho minha alma no campo, sou também leitora assídua e curiosa da reação do homem rural nessa crise. Muitas vezes, encontro belos exemplos dos que não perderam a esperança e recomeçam. Por outro lado, a Lava Jato, a corrupção, o impeachment, e muitas atitudes de políticos e de governantes têm-me deixado envergonhada e até assustada. Agem como se fossem moleques, discutindo e se agredindo, para não dizer algo pior. Não os reconheço mais como representantes do povo. Esse cenário trouxe a minha memória o primeiro voto que coloquei em uma urna e os políticos de antanho. Muito diferentes dos que vejo agora. Tomem tenência, representantes do povo. É assim que se advertiam os malcomportados no século passado.
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