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Mafalda Orlandini
25/11/2013 | Vivendo com Medo
Na minha primeira infância, só tínhamos medo de bruxas, fantasmas, mula sem cabeça, vampiros, homem-saco, lobo-mau e outros entes sobrenaturais, quando nos contavam histórias. Como, na minha família, não era hábito assustar crianças com essas lendas, não me lembro de passar algum medo maior antes dos quatro anos. Eu o senti pela primeira vez em uma viagem de Roca Sales a Cruz Alta. Acho que era o primeiro carro de meu pai. Não sei qual era a marca, mas, naquele tempo, nós sempre dizíamos que Fulano havia comprado um Ford. Hoje eu diria que era um calhambeque.
Foto de 1935
Pois foi nesse carro que enfrentamos um temporal assustador. Acho que a capota era de lona e as cortininhas das janelas, de uma espécie de tecido transparente, arremedo de vidro. Trovejava, relampejava, chovia a cântaros e a água entrava por todos os lados. Éramos quatro crianças apavoradas com dois casais assustados. Os relâmpagos eram tais e o barulho tamanho que pensávamos que íamos despencar no primeiro precipício. Tivemos que nos abrigar na primeira casa que apareceu no caminho.
A segunda vez em que senti medo, foi por causa de uma travessura. Viéramos para Porto Alegre e meu pai alugara uma casa na Tristeza. Era uma casinha junto ao Arco da Wenceslau. Havia uma escadinha da calçada até a casa no alto do terreno. Meu pai tinha um Opel preto que estacionava na frente em direção à parte mais alta da rua. Foi ideia do Benito. Pegou a chave sem papai perceber e convidou-me para brincar de motorista. Peguei a Leda no colo e saímos sorrateiramente. Éramos crianças de dois, quatro e seis anos. Coloquei a leda no banco de trás e sentamos os dois, muito faceiros, no banco da frente. O Benito soltou o freio e o carro foi descendo de ré, atravessando a rua e indo em direção ao Cine Gioconda do outro lado da rua. Cada um saiu por uma porta e deixamos a Ledinha sentadinha no Banco.
Opel 1936 Super 6
Pânico total. Chorávamos e não conseguíamos dizer que havíamos perdido a irmãzinha. Pensamos que não poderíamos resgatá-la nunca mais. E também não tínhamos coragem de contar a travessura. Quando meus pais conseguiram entender e ir até o local, vizinhos já haviam feito o resgate.
Foto de 1936: Edgar Voges, Mafalda, Alzira, Arno Heidrich.
Sentados: Benito e Leda.
Nos últimos tempos, os Meios de Comunicação têm noticiado a fúria constante da Natureza: tufões, tornados, terremotos, tempestades avassaladoras, tsunamis, vulcões voltando à ativa, enchentes e outras calamidades. Elas se repetem em áreas de risco e eu imagino o medo diário de quem vive nesses locais. Só isso não é suficiente O homem também criou sua própria violência. Ouve-se, a todo o momento, que há assaltos, assassinatos, atentados, sequestros, cárcere privado, trabalho escravo, atos terroristas. E sobra para nós, se sairmos às ruas, um acidente de trânsito ou uma bala perdida. O Jornal da Record, nesta semana que passou, apresentava o centro de Porto Alegre como o território do medo. As pessoas com medo da própria sombra, andando apressadas e olhando para os lados. Os meus medos foram gotinhas do mar se comparadas à violência deste século.
O que nos resta é fazer a nossa parte e rezar sempre, com muita fé. Achei muito linda aquela sugestão do Papa Francisco, a oração dos cinco dedos. Rezar uma oração em cada dedo da mão na intenção das pessoas sugeridas por ele: Conforme o Papa Francisco, o polegar representa os que estão mais próximos de nós. O indicador é o dedo de nossos mestres, de nossos professores, de nossos pais que nos ensinaram o caminho da vida. O médio é o maior dedo e significa nossos governantes, nossos chefes. O anular, o dedo sem forças, representa os mais fracos, os doentes; e o minguinho, o menorzinho, enfim, são os mais humildes. Assim rezamos por todos, nossos amigos ou inimigos. É uma forma singela de rezar por todas as pessoas do mundo, amigos ou inimigos para que encontremos o caminho de uma paz sem medo.
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