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Mafalda Orlandini
17/03/2014 | BAÚ DE MEMÓRIAS
Imagino nossas lembranças e vivências guardadas em uma espécie de baú. Esses baús antigos em que se guardam relíquias e objetos fora de uso. Basta desejarmos, abrimos o baú e lá encontramos tudo preservado como deixamos.
Assim ficam nossas lembranças, adormecidas durante vinte, cinquenta, setenta anos ou mais. E, de repente, são chamadas para testemunhar para os incrédulos e para nós mesmos que, embora em desuso, ainda vivem. Foi o que aconteceu há algumas semanas, quando li o comentário do meu filho “As cores na TV Brasileira” ( 19/02/2014 ). Lembrei-me da primeira vez que fui ao Rio de Janeiro e resolvi abrir o meu baú para resgatar um evento inédito do meu tempo de adolescente. Meu pai precisava ir ao Rio a negócios. E eu acho que me escalei para ir junto. Tinha quinze anos e nunca viajara de avião, nem saíra do Rio Grande. Papai iria para um hotel e eu poderia ficar na casa dos padrinhos do meu irmão Lourenço. Minha argumentação foi convincente, minha mãe concordou e arrumou minha mala.
O que encontrei primeiro no meu baú foi a foto de um lambe-lambe da única vez em que visitei o Corcovado, data de 1945. Era e sempre será visita obrigatória de qualquer turista. Essa foto, meio primitiva, só vale pela excepcionalidade de registrar um fato que ocorreu há 69 anos.
Foto do Corcovado
Os “compadres” me levaram também a um parque de diversões que era considerado o maior e mais moderno na época. Fiquei deslumbrada, porque, com quinze anos, nunca fora a algum. Aproveitei para experimentar todos os brinquedos como uma criança.
Papai era apaixonado por qualquer tipo de jogo: cavalos de corrida, jogos de carta ou de roleta. E ele, ao ir ao Rio, tinha outras intenções além dos negócios. Então o que ficou mais marcado na minha memória foram os passeios que fiz com ele. Do Hipódromo da Gávea, lembro pouco: as corridas dos cavalos, o luxo dos trajes e a variedade dos chapéus das damas da elite carioca.
Foto do Casino da Urca
O que tenho bem viva na memória é a visita ao Cassino da Urca. Penso que ainda não havia problema de idade mínima naquele tempo, porque eu tinha apenas quinze anos e pude assistir a um show de Carlos Machado. Enquanto meu pai ia à sala de jogos com o compadre para jogar na roleta, eu fiquei no teatro com a Isaura e o Fernando Ferrari que era irmão dela. Olhos e ouvidos atentos, vi a apresentação de uma cantora que ficou famosa imitando a Carmem Miranda que já estava fazendo sucesso nos Estados Unidos. Outra coisa que me chamou a atenção foi a frequência com que os garçons passavam com as bandejas, braços ao alto, servindo melão com presunto. Parece piada, mas foi a primeira vez que vi comer melão com presunto dessa maneira.
Em 1945, só se falava no Hotel Cassino Quitandinha, que fora construído em Petrópolis. Conforme ideia de Joaquim Rolla, era para se tornar a capital do jogo bancado da América do Sul. Foram reproduzidos cenários de filmes americanos com amplos e luxuosos salões, suítes e vários palcos para shows. Era frequentado por artistas, milionários, políticos, que pagavam diárias astronômicas e deixavam fortunas no jogo carteado ou na roleta. É claro que meu pai quis conhecer o ”Palácio Quitandinha”. Não o vi jogar e completamos o dia com um jantar num luxuoso restaurante.
Fotos tiradas na frente de Quitandinha em 1945.
Naquela ocasião, já havia uma corrente querendo acabar com o jogo no Brasil. A Imprensa publicava frequentes críticas daqueles que o combatiam e acusavam os que se locupletavam com o dinheiro da jogatina que campeava no país. Devido à pressão e a argumentos bem fundamentados o Governo teve que tomar um atitude. E, em 30 de abril de 1946, o General Eurico Gaspar Dutra, então Presidente do Brasil, assinava um decreto proibindo definitivamente o jogo. E assim acabou com o jogo como meio de vida de muitos, mas não com a polêmica que durou muitos anos.
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