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Mafalda Orlandini
07/04/2014 | Um Pedacinho do meu Bairro
Mudei-me para a Rua Doutor Barcelos em 2000. Durante muitos anos, andei pelos bairros mais próximos, passeando, comprando, frequentando seus restaurantes, fazendo amizades, trabalhando muitos anos na Escola Estadual Santos Dumont. Aprendi a amar a Tristeza, a Assunção e as pessoas que moram aqui: colegas, alunos, vizinhos e a família de meus netos que já morava nesses bairros.
Quem me conhece, sabe que há três anos tive uma doença grave e deixei de andar. Costumava brincar que já havia comprado a minha passagem para o andar de cima. Não conseguia falar, comer, enxergar. Depois que saí do hospital, com uma sonda gástrica, foi uma luta que travei com o que chamo de minha “Equipe das Sete Mulheres”. Agora fico o maior tempo em casa e me ocupo com atividades recreativas e variadas. Leio, escrevo, vejo televisão e filmes, além de muita fisioterapia. Às vezes, fico sozinha (gosto de mostrar certa independência), e preciso abrir a porta para a fonoaudióloga ou a fisioterapeuta. Não posso descer e, por segurança do prédio, o controle não funciona daqui. Só o portão da garagem. Criei uma brincadeira: a chave fica amarrada à ponta de um cordão, eu abro o portão daqui de cima, elas entram com o carro na garagem e alcanço a chave pela sacada.
Vista frontal da minha sacada. Ao fundo o Guaíba.
Minha rua é bem longa. Começa em um portal lá no Guaíba e vai até a Cavalhada. Mas o meu pedacinho é apenas o que vai da Esquina da Rua José Gomes até o Clube dos Jangadeiros. Daqui do quarto andar, desta esquina, posso ver como o meu pedacinho é arborizado. Até o verão, tudo esteve colorido de jacarandás, ipês, paineiras, flamboaiãs, que já se foram. Inclusive as espirradeiras já estão perdendo as flores. Agora ficou apenas um mar exuberante e extremamente verde que vai até o estacionamento dos barquinhos do Clube. Aliás, basta um dia de ventos para que o Rio fique salpicado de pontinhos brancos.
Meu olhar alcança até o Morro do Osso, à esquerda e o lado central da cidade, à direita. Entretanto, quando fico alguns minutos à sacada, esperando minhas dedicadas profissionais, eu me delicio observando os vizinhos. Vejo os quintais de algumas casas que são baixinhas. Pátios e jardins bem cuidados, piscinas e crianças brincando, rindo. O que me encanta é a educação da vizinhança. São ecologicamente preocupados, corretos. Ninguém costuma mais lavar as calçadas por uma consciente economia de água, mas algumas donas de casa varrem as suas, e juntam o lixo.
Olhando à esquerda de minha sacada mais esta linda vista com o Morro do Osso ao fundo.
Este trecho de que falo é muito silencioso, não passam ônibus, só carros e Kombis escolares em velocidade moderada. O maior barulho que ouço é dos cachorros latindo muito quando as pessoas passeiam com seus mascotes. Incrível, elas nunca descuidam dos dejetos do animalzinho e levam um saquinho para juntá-los. Eu falo de coisas simples, banais. Mas avaliando o que se vê pelo mundo, a turbulência, o desrespeito ao outro, o que observo aqui é muito bonito. Diariamente acompanho o que se passa no mundo e comparo com a paz que me cerca. Se a felicidade é um estado de espírito, posso dizer que é possível ser feliz com a rotina, a simplicidade e as limitações que me cercam,
Por do sol do Guaíba.
Nos últimos anos construíram três edifícios lá na Wenceslau Escobar que me tiraram parte da visão panorâmica. Felizmente, não conseguiram evitar que eu aviste a cidade de Guaíba ou, o pior, roubar o maior bem que passei a admirar ao comprar esse apartamento, o incomparável pôr-do-sol do Guaíba.
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