Mafalda Orlandini
18/03/2013 | A Equipe das ‘Sete Mulheres’
Em dezembro, recebi uma mensagem carinhosa da minha sobrinha Lorena. Desejava Boas Festas e me parabenizava como exemplo de superação. A volta por cima, no entanto, só foi possível com a ajuda de muitas pessoas.
Em primeiro lugar, estão meus familiares e amigos que se mostraram solidários não me deixando lutar sozinha. Até um vizinho aparecia seguidamente para conversar e me dar coragem. Estarei agradecendo o carinho de todos eles pelo resto da vida.
Quero, pincipalmente, registrar o trabalho da turma que cuidou da minha convalescença. Meu filho encarregou minha nora Kathia e meu neto Fernando de montar um pequeno hospital em meu apartamento. Tinha de tudo que se precisasse numa emergência, até um tubo de oxigênio. No hospital, tinham me colocado uma sonda gástrica e me dado “alta” sem estar curada.
Agora é que vinha o problema, o elemento humano. Conseguir alguém qualificado para cuidar de uma idosa vinte e quatro horas por dia. Devo ter um bom anjo protetor porque as soluções foram aparecendo. Eu já tinha uma fonoaudióloga excelente que se ofereceu para controlar o tratamento e vir todos os dias. Já me tratava com uma fisioterapeuta ótima. Caíram do céu mãe e filha que vieram de General Câmara e se revezavam todos os dias. Consegui uma amiga, técnica em enfermagem, aposentada, para vir algumas vezes. Uma tia de meus netos passou a cuidar do meu cabelo e das minhas unhas e, por último, chamei a faxineira que já trabalha comigo há vinte anos. Quando percebi, estava com sete mulheres cuidando de mim. Que luxo, disse que me sentia a própria rainha da Inglaterra.
Daí me lembrei do romance de Letícia Wierzchowski, “A Casa das Sete Mulheres” em que narra magistralmente episódios da Guerra dos a Farrapos. Que a Letícia me perdoe a brincadeira. Umas mulheres do grupo nem conheciam o romance e aproveitei para contar, aos poucos, a saga dos gaúchos ou das gaúchas. E era mesmo uma luta diária, mas levada com bom humor para impedir que eu usasse a passagem que eu dizia ter comprado para o andar se cima.
O que quero ressaltar neste texto é que há maneiras e maneiras de enfrentar os contratempos na vida. Minhas sete mulheres e eu conseguimos transformar um período difícil em brincadeira, em risadas. Eu brincava com minhas dificuldades (me davam banho, me vestiam, me davam comida na boca ou trocavam minha dieta etc. etc.) e eu dizia que agradecia a mordomia, os mimos que estavam me fazendo.
Ouve-se muito falar de maus tratos a idosos. Eu, em nenhum momento, me senti uma idosa, coitadinha, diferente daquelas pessoas que me cuidavam. Fui tratada com respeito e carinho. Há profissionais por acidente e ”profissionais” vocacionados que cuidam de idosos, de crianças com câncer, de excepcionais e os tratam com um amor irrestrito. À minha “equipe” e a todas essas pessoas, quero expressar a minha admiração.
- Lorena, querida, esse é o segredo: criar uma “equipe de sete mulheres” para cuidar de quem, mesmo com oitenta e três anos, ainda tem um projeto de vida, o de ser feliz.
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