Mafalda Orlandini
18/09/2017 | O Coração de Porto Alegre
Somente uma pessoa apaixonada por Porto Alegre, que eu também amo com a mesma intensidade, poderia desenhar um quadro tão perfeito daquele que foi o centro nervoso da cidade nos os meados do século passado. Falo da crônica de David Coimbra no dia 10 de agosto em ZH. Eu me vi na adolescência, emocionada, desfilando pelas calçadas da Rua da Praia.
E mais. Como bom cronista que é, consegue fazer belos textos daquilo que é banalidade para nós: os jacarandás, os ipês, a serração, o cachorro-quente do Rosário. E lá vai. Por enquanto, (bonzinho que é) ele deixou para mim comentar umas lembranças da Rua da Praia que curti muito: a rapaziada que ficava junto às calçadas e os fotógrafos à procura de clientes.
Vamos lá. Era costume dos jovens ficarem conversando junto ao meio-fio, pitando, às vezes, com postura elegante, um cigarrinho (fumar era chique). O objetivo era apreciar o desfile das mocinhas e lançar galanteios. Eram piadinhas gentis, delicadas que deixavam as meninas envaidecidas. Podiam até pretender iniciar um namorico. Naquele tempo, não se pensava em assédio sexual.
Colegiais e jovens desfilando na Rua da Praia.
Ah, os fotógrafos. Eram como moscas no mel. Não deixavam escapar nenhuma oportunidade de ganhar seus trocados em cima dos transeuntes faceiros. E com razão. Os turistas faziam questão de levar uma recordação da famosa Rua da Praia e os moradores da cidade também gostavam de colocá-las em seus (hoje saudosos) álbuns de família.
Minha mãe Alzira levando turistas para passear e fazer compras na Rua da Praia.
1) Tia Aracy e Alzira 2) vó Ana, Alzira e Isaura Ferrari 3) Ielda e Alzira
Havia ainda os lambe-lambe da Praça Quinze que eram sempre requisitados pelos visitantes. Eram depois mostradas aos parentes, quando retornavam das viagens à capital. Claro, era a prova do evento, pois eram raras as pessoas que tinham sua máquina fotográfica. Lembro do meu orgulho, quando ganhei minha KODAK. Saí a fotografar meus irmãos, minha família, meus amigos. Até a Maria, nossa empregada de anos, pediu para tirar sua primeira foto.
Meus pais em lua-de-mel em julho de 1929.
O tempo passou como um furacão e fui também vivendo as mudanças. Mas essas são “historinhas de idosos” que até parecem inacreditáveis para essa geração que tira “selfies” a todo momento e fotos até de uma pulga. Claro, o século passado já era, estamos no século XXI.
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