Mafalda Orlandini
21/12/2015 | Um Pôr-do-Sol muito especial
Quando comprei este apartamento, há mais ou menos vinte anos, ganhei um brinde muito especial: aquele que os gaúchos dizem ser o mais belo pôr-do-sol do Brasil. Pode ser admirado em quase toda a orla do Guaíba: Cais do Porto, Parque Marinha do Brasil, Pontal do Estaleiro, Usina do Gasômetro e lá vai. Esses são alguns pontos turísticos da Porto Alegre dos Casais que não incluem meu apartamento. No século passado, quando eu ganhei o brinde, era possível acompanhar a sua rota durante todo ano. Conforme a estação, o pôr-do-sol vai mudando de lugar (lição da escola, movimento de translação da Terra) e posso acompanhar, mas agora esse divertimento está ficando a perigo.
Pôr-do-sol do Guaíba.
No princípio, a vista panorâmica era total. Bem à direita, estava e ainda está lá um polêmico prédio de vinte e dois (acho) andares, construído antes do atual plano diretor. É um dos famosos e discutidos “espigões” da Zona Sul. Bem, durante vários dias, ele desaparece atrás desse prédio da Wenceslau Escobar. Depois, ele ficava livre e solto até o final da vista panorâmica.
Há mais ou menos três anos, começaram a construir um prédio de doze andares quase na esquina da Doutor Barcelos com a Wenceslau. Escondeu a Ilha das Pedras Brancas (ou do Presídio, ou da Pólvora) que eu amava ver e contar suas histórias para minhas visitas. Agora, ele passa muitos dias sem que eu possa admirá-lo e sem seus raios entrarem pelo meu living e alcançarem a sala do computador.
Mas há outras ameaças. Um prédio mais baixo já me tirou a vista da parte superior da Igreja Evangélica São Matheus. Eu adorava olhar para ela, quando repicavam os seus sinos aos domingos chamando para o culto. E, há poucos dias, eu levei um susto, quando, à noite, percebi um prédio que nunca vira antes. Só ao amanhecer, vi que é a estrutura de um edifício em construção que brotou do solo, lá pelos lados da Otto Niemeyer em poucos dias. É só a estrutura, mas já ocultou mais um espaço da paisagem.
Vista do Morro do Osso, com prédios desde a Av. Otto Niemeyer.
Resolvi examinar com mais atenção o Morro do Osso que fica à esquerda para o lado sul e me surpreendi com a floresta de prédios que surgiu para aquele lado. Quase não se consegue mais ver as inúmeras residências espalhadas nas encostas e agora escondidas pelo festival de edifícios. Só se enxerga a copa verde das árvores da parte superior do morro.
E tem mais. Aqui na Doutor Barcelos já foram demolidas quatro ou cinco casas antigas e estão preparando os terrenos para começarem a construir. Não vão ser prédios de menos de doze andares porque são terrenos lindeiros. Vou torcer para ficarem uns atrás dos outros para não prejudicar a curtição com o meu pedacinho de bairro. E que os raios do pôr-do-sol continuem lambendo meu living e inundem meu coração com sua nostalgia do entardecer. É, a Zona Sul não é mais aquela. Eu que o diga que a conheci no tempo em que os porto-alegrenses faziam suas casas de veraneio em Ipanema ou Belém Novo.
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