![](http://45.7.168.149/uploads/colunistas/e2dae9bf0a486a815eb1f5b539fbbaa6.jpg)
Mafalda Orlandini
01/10/2018 | O Casarão Vivo
Num domingo desses, Oscar, meu filho, veio almoçar comigo e me trouxe um livro de presente. Trata-se de “Moinhos de Vento”, obra idealizada por Gilberto Domingues Werner, adotada e patrocinada pela Empresa Goldsztein. Bastaram alguns minutos para eu perceber que tinha em mãos uma preciosidade. Além do nosso casarão, estavam ali imagens do bairro em que vivi na década de 50. E mais, os detalhes de uma história apaixonante da criação do bairro em que passei quase dez anos muito felizes.
Esquina da Rua 24 de Outubro com rua Hilário Ribeiro
Casa da Família Orlandini
Ao ver meu entusiasmo e emoção, meu filho me disse; - Interessante é que eu morei aí e não consigo me lembrar de nada significativo ou como ele era na realidade. Aliás, é compreensível que seja assim. Nasceu em 1953 e viveu ali apenas até os cinco anos de idade. Vou brincar com a memória e pescar dados e fatos para dar a ele uma ideia do que viveu ali. Vamos ver se vai dar certo.
A entrada social era na rua 24 de Outubro, número 434. O acesso à área de serviço ocorria pelas garagens na Hilário Ribeiro. A parte frontal da casa, no primeiro andar, salienta-se por uma sacada com uma escultura de algum artista da época. Leda, minha irmã, e uma das filhas do casal, era uma jovem linda, na flor dos 16 anos. Creio que, por isso, mereceu um dormitório de princesa, criado pelo decorador Raul Fernandes, muito requisitado na época. O estilo era tão diferenciado e de bom gosto que deixava as pessoas boquiabertas tal o impacto que causavam os tons de rosa e a cama meio casal com um dossel todo franjado. O Oscar, o reizinho da casa, como era o único sobrinho, teve o privilégio de, muitas vezes, ir brincar no quarto da titia.
Bem, agora vamos entrar no palacete (nome usado na época) e ver como pulsava seu coração enquanto vivo. Passava-se pelo portão de ferro, caminhavam-se alguns metros para chegar a uma escadaria (acho que era de mármore). A construção do imóvel foi em nível mais alto do terreno. A porta de entrada dava para um amplo salão.
Foto de meu casamento com o Ney, no amplo hall de entrada do casarão.
Defronte à porta, havia um nicho com o único telefone da casa (o 3334, se não me engano). Quem, deve se lembrar é a Leda que falava todos os dias com o único namorado que teve na vida e com quem se casou, o Schifino. Em seguida, vislumbrava-se a escadaria, encimada por uma bela escultura. Provavelmente, idealizada pelo mesmo autor daquela da fachada. Foi um belo local para eu jogar meu buquê de noiva. O Oscar não viu isso porque não estava presente no meu casamento (risos), mas foi aí, no início da escada, uma das suas primeiras travessuras. Quando começou a engatinhar, foi apanhado lá pelo oitavo degrau. Foi um susto.
Logo à direita da porta de entrada, ficava a sala da Biblioteca da família Ferreira. Devia ter cerca de uns mil livros e um busto de Júlio de Castilhos. A família tinha um zelo enorme por aquele acervo e ouvi dizer que havia sido do próprio Júlio de Castilhos. Pois essa biblioteca foi a primeira desilusão que sentimos com a troca de casas. O doutor Ferreira solicitou, e papai concordou, dar posse da parte em que funcionava o nosso Clubinho. Então, antes de um mês da mudança, começou a reforma para trazer e acomodar os livros. Não teve choro nem lágrimas que mudassem o acordo e vimos homens desmancharem o nosso refúgio e trazerem prateleiras e muitos, muitos caixotes com livros para invadir o que antes era nosso espaço, o lugar de estudo e de confraternizar com os amigos. Doeu muito para todos nós. Ainda tenho muitas histórias para contar, mas, por hoje, já chega.
Compartilhe
- Dia das Empresas Gráficas
- Dia de São João
- Dia do Anjo Haheuiah
- Dia do Caboclo
- Dia do Observador Aéreo
- Dia Internacional do Disco voador
- Dia Internacional do Leite
- Festa de São João Batista - Porto Alegre
![img](http://45.7.168.149//temas/site/assets/img/img-ad.png)