Mafalda Orlandini
16/07/2018 | Meus Amigos Cronistas
Eles não sabem. Nem me conhecem, mas dialogam comigo diariamente. Eu explico. Desde que aprendi a ler e me dou por gente, leio tudo que me cai nas mãos: primeiro foram as historinhas. Depois as revistas, os romances, os jornais, qualquer assunto que me despertasse a curiosidade. Mas as crônicas se tornaram minha paixão. Eles, os cronistas, estão mais próximos, revelam-se como pessoas como nós, com passagens de suas vidas, de suas infâncias. Não são como os outros escritores que contam histórias de outros, ou inventam ou é pura ficção. Suas opiniões, suas críticas são bem fundamentadas. Muitas vezes, uma fina e inteligente ironia encanta. São transparentes.
Vou contar como eu conheci pessoalmente a escritora Lya Luft. Começava a década de oitenta e eu lecionava Português e Literatura no Segundo Grau do Colégio Rosário há uma década. Essa escritora estava se destacando nacionalmente com seus romances. Pedi autorização ao Diretor do Colégio e convidei-a para fazer uma palestra aos meus alunos. Lembro-me bem. Recebi-a na sala dos professores. mantivemos um rápido contato protocolar e eu a conduzi ao salão de atos. Foi só. Claro que ela não se lembra, mas eu sim. Desde então, acompanhei a sua carreira como acompanho de qualquer escritor.
Lya Luft
Comecei a conhecer realmente a Lya, quando ela passou a escrever crônicas aos domingos em ZH. Numa das primeiras vezes em que escreveu disse que era descendente de colonos alemães que chegaram ao Brasil no final do século XIX. Ora, os ascendentes alemães de mamãe também. Quando conta episódios de sua infância, a educação que recebeu lembra exatamente a minha. De uma zelosa mãe alemã. Inclusive, ao lembrar que sua mãe falava aos outros quando ela vivia grudada nas leituras é parecida. Minha mãe reclamava que eu não respondia nem escutava ninguém enquanto lia. Quando faz palestras sobre a educação dos nosso meninos e adolescentes de hoje, reflete a minha posição pessoal. Sei onde mora, que tem uma pet que ama, que teve três filhos, que perdeu um faz pouco, que residiu no Rio com seu segundo marido, etc, etc. Agora, se me encontrar com ela, vamos curtir um bate-papo de amigas íntimas.
Outro excelente cronista com quem falo diariamente é o David Coimbra. Eu sabia que era um destacado cronista esportivo. Esporadicamente lia algum texto dele, mas não me empolgava muito. De repente, saiu a notícia de sua doença. Continuei sabendo pelos jornais que fora se tratar nos Estados Unidos. No entanto, quando passou a ocupar a última página de ZH, não perdi mais uma oportunidade de ler os seus ricos textos que sempre trazem uma lição de vida ou uma posição bem fundamentada. Apaixonei-me definitivamente pelos textos da Rua da Praia, da adolescência no IAPI, da explicação ao Bernardo sobre a neblina no Guaíba, de como vive em Boston com Bernardo e a Marcinha, de como fala de seus vizinhos americanos, de como me fez conhecer o povo Russo de agora, da garçonete russa. Enfim, não vou citar tudo que aprendi com a “pena” desse Jornalista excepcional. Apenas vou ressaltar como ele enfrentou seu câncer e como é grato aos verdadeiros amigos e médicos que o curaram.
David Coimbra
Hoje ele encara a vida de um modo muito especial.
Assim são dois amigos cronistas que muito admiro. Mas não são os únicos. Outros vêm aí.
Compartilhe
- Dia de Santa Olímpia
- Dia do Presbiteriano
- Dia São Lázaro / Xapanã