Mafalda Orlandini
17/06/2013 | A Paixão pelos Cavalos de Corrida
Há notícias de corridas de cavalo a moda inglesa em vários “prados” da cidade já no final do século XIX. Mas só no início do século XX, foi fundada a Sociedade Protetora do Turfe e as corridas passaram a ocorrer no Prado Independência, no Bairro Moinhos de Vento, local preferido dos porto-alegrenses para construir suas mansões. O Prado foi, naquela época, muito frequentado pela elite porto-alegrense e outros apaixonados pelos que consideravam as corridas um esporte nobre, ideal, bem ao gosto dos gaúchos que amam cavalos. A área foi, posteriormente, doada à prefeitura que a. transformou em parque Moinhos de Vento, o conhecido Parcão. Quando foi liberado ao público, ouvi mães dizerem que era lindo, mas muito perigoso, pois ali apareciam muitos ratões que vinham comer as pipocas ou restos de sanduíche das crianças. Claro, aquelas ratazanas, que se abrigaram nos esgotos, vinham à procura do milho e dos restos de ração dos cavalos.
As Indústrias Orlandini S/A estavam em franco desenvolvimento e dinheiro não faltava a nenhum dos irmãos. Meu pai podia desenvolver sua paixão: investir em cavalos de corrida. Lembro bem. O primeiro puro sangue foi o Realce. Vieram muitos outros. Tantos que chegou a mandar os melhores a competir em Rio Grande, Pelotas, Rio de Janeiro e Uruguai. Não ganhou nenhum Bento Gonçalves ou Grande Prêmio da Gávea. Ganhou, sim, muitos troféus, taças e medalhas de ouro. Mamãe, um belo dia, resolveu distribuí-los entre os filhos. Pude escolher primeiro porque era a mais velha. Escolhi o mais bonito: Grande Páreo Dr .A. J. Peixoto de Castro Jor. (22/11/47)
Outros troféus e taças estão com os descendentes dos meus irmãos Eis alguns:
Nessa época, passávamos todos os domingos no Prado, no gramado interno da pista de corridas, torcendo, brincando, comendo pipoca, amendoim. Não perdíamos as corridas do Stradivarius que foi o maior craque que meu pai teve. E me lembro, com tristeza, do que aconteceu com ele. Ganhava sempre disparado e passou a ser o favorito nas apostas. Um dia, franco favorito, largou na frente e começou a mancar. Chegou em último lugar, arrastando-se, com uma pata erguida. Soubemos depois que fora um problema na ferradura. Como isso aconteceu? Nunca se soube. Os que haviam jogado no Stradivarius gritavam ladrão, ladrão, vaiavam e nós chorávamos abraçados .Não vi meu pai chorar, porque homem não podia chorar naquele tempo, mas a dor sei que foi muita. Não ganhou nunca mais.
Dois ou três verões passamos no Cassino, em Rio Grande, porque os cavalos eram enviados para correr grandes prêmios em Pelotas e Rio Grande. Meu pai teve então que fazer umas camisas de identificação da sua cocheira Eu estava aprendendo a costurar, mandou-me fazer duas camisas e um boné. Fiz com o maior capricho e orgulho. Lembro que uma das cores era cetim vermelho mais o desenho que identificava a cocheira. Quando foi usada, ansiosa, perguntei como fora. E ele me respondeu que bem, mas que o jóquei perdera o boné durante a corrida. Naquele tempo, o nome dos jóqueis (Mario Rossano, Nereu Severino e outros) eram muito falados lá em casa, entretanto não sei qual deles levou a multa por perder o boné durante a corrida.
Pena que meus queridos irmãos e cunhado Schifino (veterinário responsável pelo plantel) não estejam mais aqui para me ajudar a contar muito mais para quem tem curiosidade sobre essa paixão dos Orlandini. Eles também gostavam, e acompanharam mais de perto, e poderiam facilmente enriquecer essas lembranças. Papai ficou tão apaixonado que pensou em criar cavalos puro sangue, mas isso é outra história. a do Haras Realce.
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