Mafalda Orlandini
24/09/2018 | O Prazer de Escrever
Estou convencida de que o prazer de escrever é inato. Lembro que gostava de escrever e receber cartas, desde quando era estudante ginasial. Sempre esperava com ansiedade cartas das primas e tratava de respondê-las em seguida. E, durante algum tempo, fiz parte de um grupo de estudantes (não sei quem o criou). Trocávamos correspondência assiduamente. Escolhíamos em uma lista de jovens de outros cantos do Brasil um ou dois para trocar cartas. Lembro que eu tinha um da João Pessoa. As cartas eram muito esperadas e imediatamente respondidas. Foi uma ideia inteligente de algum educador para levar estudantes a estudarem história, geografia, hábitos ou costumes de outras partes do mundo e fazer, ao mesmo tempo, exercícios de linguagem. Não existem mais as cartas, só alguns postais por aí, mas ficaram as lições.
Quando fui estudar no Colégio Bom Conselho, eu vinha de um outro colégio e do Bairro Floresta mais popular. Sentia-me deslocada entre as alunas que estavam lá desde o primário (era assim que se dividia o Currículo). Naquele tempo, não se falava em “bullying”, mas hoje sei que era mais ou menos isso que as meninas faziam com as novas colegas. Elas consideravam as novas como invasoras do seu espaço elitizado. Isso mudou, quando a professora de Português, Carmem Santos, mandou fazer uma redação sobre as férias. Eu nem sabia que estava fazendo uma narrativa em movimento, mas fiz uma com muito esmero: a viagem para a praia. A professora destacou a redação como a melhor da turma e ainda falou:- Há até uma frasezinha de ouro, uma figura de estilo: “os olhos, acostumados a dormir, teimam em fechar-se”. Ora, a Doutora Carmem sempre foi uma autoridade em Português no Colégio e o que ela dizia era incontestável, um elogio muito valioso. Senti-me incluída na turma e passei a ser respeitada.
Já contei esse fato outras vezes, mas gosto de repeti-lo, porque foi um marco em minha escolha profissional. É importante que professores e educadores saibam usar suas palavras com os educandos. Tanto palavras de estímulo como as de corretivos ou de críticas têm seu limite. Um jovem pode amar ou odiar determinada disciplina porque o mestre falou que ele é um “burro” e que nunca vai aprender. Veja bem. Isso não aconteceu há poucos anos. Foi em 1940 e ficou para sempre gravado, porque foi muito oportuno naquele momento.
Depois de tantos anos ligada ao Magistério e à correção de redações, muitas vezes, trabalhando pela manhã, à tarde e à noite e quase sempre aos sábados, cheguei a uma aposentadoria “milionária” (risos). Na minha idade, não tenho mais resistência física nem dinheiro para viajar pelo mundo, que é que eu gostaria de fazer. Ficou sem graça não ter compromisso de horário, ter cama para dormir o tempo que quiser, alimentação de primeira (o que muitos não têm) e TV para curtir. O Facebook nem sempre me agrada. Ficam brigando, agredindo-se, espalhando boatos, insegurança. Passei a conversar com o computador, contando os eventos familiares. Até o dia em que, em vez de anotações, resolvi fazer crônicas. Aprovadas as primeiras, fui adorando e escrevendo.
Autobiografia de Luiz Alberto Rossi
Esse amigo da adolescência costumava ler algumas crônicas que eu publicava no site do Ricardo. Marcou um encontro em minha casa e veio me oferecer sua obra que conta episódios de nosso tempo. Foi ele e a esposa dele que me incentivaram a publicar meus escritos. Estou com limitações em audição, fala e escrita cursiva, mas o computador resolve tudo isso. E hoje estou vivendo um prazer inesperado em ver que minhas emoções, minhas memórias podem ganhar o mundo, e outras pessoas podem emocionar-se ou divertir-se com elas. Claro, precisei da ajuda de meu computador amigo, do site do meu filho e da amizade do meu amigo de toda vida. Isso me deixa muito feliz. “Às vezes, está escrito nas estrelas.
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