Mafalda Orlandini
11/04/2016 | Anna Mezzomo, minha avó italiana I.
Sempre que começam os preparativos da Festa da Uva, eu me lembro muito da vovó Anna. É por um motivo muito especial, uma paixão da qual eu a ouvia falar durante anos, ir a Caxias do Sul durante esse badalado evento. Um dia, ela conseguiu realizar seu sonho. Não foi possível lembrar em que ano foi. Só sabia que eu ainda era solteira. Ocorreu-me que ela me havia trazido uma lembrança: um pequeno broche de acrílico. Durante uns dias, catei-o nas minhas famosas caixinhas. Encontrei a, agora, preciosidade. Ei-la.
O broche da Festa da Uva de 1950.
A data que está ali é 1950. Mas eu lera em ZH que era a 31ª festa e as contas não fechavam. Não aceito dúvidas, amo história, ainda mais quando envolve nossas vidas. Fui pesquisar e agora me localizei no tempo, além do prazer de conhecer detalhes muito interessantes a respeito da emigração italiana. Em 1931, em 7 de março, foi inaugurada a primeira Festa da Uva. Por ser um sucesso, foi repetida nos dois próximos anos, tendo sua primeira Rainha em 1933. Durante a Revolução de 30 e a ll Guerra Mundial foi suspensa. Foi retomada em 1950, justamente, quando minha avó conseguiu ir. Por isso não fechavam minhas contas.
Sei que governadores, presidentes, autoridades são sempre convidados para as inaugurações e Getúlio Vargas esteve na Feira em 1954, poucos meses antes de seu suicídio. Em 1972, a Festa foi marcada pela primeira transmissão da TV em cores ao Brasil.
Agora que já sei quase tudo sobre o que ela representava para minha avó e representa para os descendentes dos emigrantes italianos, vou relembrar momentos vividos com minha querida avó. Fui muito ligada a ela. Ficava muitas horas ouvindo-a falar e contar sua vida. Eu era a neta mais velha e ela comentava, para meu orgulho, que eu era a única pessoa que tinha paciência de ouvi-la contar seus segredos e problemas. Era muito bom, era um amor recíproco. Ela me ensinou a fazer tricô quando eu tinha três ou quatro aninhos. Dona de casa tipicamente italiana, era quituteira de mão cheia. As melhores polentas (cozidas e batidas em panelas de ferro), macarronadas (caseiras, passadas em uma máquina especial) e molhos vermelhos sempre me deliciaram. À noite, colocava grossas fatias de polenta na chapa do fogão a lenha que ficavam uma delícia, acompanhadas de linguiça caseira e café passado na hora. Quando eu chegava para as férias, encontrava deliciosas compotas caseiras para me deliciar. Uma avó assim não é para qualquer pessoa.
Quando procurei fotos dela para ilustrar minha crônica, encontrei mais do que pensava.
Foto da visita ao Frigorífico em 1938 no dia em que meu irmão Benito foi fotografado em cima de um porco.
Da esquerda para direita: Nena, vovó, Ielda (irmã de Nena), minha mãe, tia Aracy, Arno Heidrich (namorado da minha tia), tia Fintia. Na frente, as crianças: Mafalda, Leda, Benito e Popa, minha prima e afilhada.
O meu irmão Lourenço ainda não havia nascido. Lembro-me bem desse dia. Nós já morávamos em Porto Alegre, no bairro Tristeza, e a tia Aracy (irmã mais moça da minha mãe) namorava um vizinho. Fomos a Roca Sales levá-lo para conhecer a vovó Carolina (minha avó alemã e mãe da mamãe) e a família Voges. Eu gostava do Arno. Pena que não saiu o casamento.
Vovó Anna com o neto mais velho, o Nóbile
Vovô Calixto com os espetos na mão, a vovó Anna e eu.
Na primeira foto, está vovó com o neto homem mais velho, o Nóbile, que ela criou após a separação dos pais. Na segunda, está o vovô Calixto com os espetos na mão, a vovó e eu. Eles faziam questão de preparar um churrasquinho para mim toda vez que passava uma temporada em Roca. O almoço acontecia no térreo do prédio já que residiam no segundo andar. Delicioso, feito no capricho.
Minha avó Anna, minha mãe Alzira e Isaura Ferrari - Rua da Praia (1939)
Minha avó não vinha muito seguido a Porto Alegre, mas essa visita foi memorável. Marca o nascimento do meu irmão mais moço, o Lourenço. A vovó veio conhecer o neto recém-nascido e acompanhar a convalescença da nora. Era imprescindível um passeio na Rua da Praia, sempre registrado pelos fotógrafos caçadores de clientes. Aí estão as três, lépidas e graciosas. Minha avó na sua simples domingueira preta. Minha mãe e a comadre, Isaura Ferrari, impecáveis no figurino da época. Os chapéus confeccionados por uma famosa chapelaria da Rua da Praia cujo nome não me lembro. Também exibiam finas “raposas” que só os ricos possuíam. Esse passeio incluía compras e um chá com doces na Confeitaria Rocco ou na Galeria Chaves. Saudades... saudades... saudades das pessoas, da moda, dos costumes singelos...de tudo daquele tempo...
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